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domingo, 16 de novembro de 2008

Entrevista de Carlos Henrique Medeiros de Souza

O meio e a mensagem

"O desenvolvimento de atividades pedagógicas em torno do folclore é uma importante contribuição na formação do espírito de cidadania e de nacionalidade do aluno", Carlos Henrique Medeiros de Souza.

Originalmente disponível em http://www.multirio.rj.gov.br/portal/riomidia/rm_entrevista_conteudo.asp?idioma=1&v_nome_area=Entrevistas&idMenu=4&label=Entrevistas&v_id_conteudo=72213

Preservar e resgatar a cultura popular e o folclore por meio das tecnologias da comunicação, que potencializam a socialização e os registros das informações, é o objetivo da folkcomunicação, campo de estudo que vem ganhando espaço no meio acadêmico. Para o doutor em comunicação e professor do curso de pedagogia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Carlos Henrique Medeiros de Souza, a escola tem como missão principal preparar o sujeito para se mover na sociedade, conhecer sua cultura, costumes e tradições.

Cabe à comunidade escolar desenvolver ações que possam permitir esses registros, visando à socialização e à preservação das manifestações culturais brasileiras. “Um dos objetivos de se trabalhar o folclore na escola é evitar que nossos padrões tradicionais sejam substituídos por modelos exóticos”, afirma o professor.

Acompanhe a entrevista concedida à Revista Nós da Escola:

Revista Nós da Escola - O que é a folkcomunicação? Como ela pode auxiliar a prática docente?
Carlos Henrique - Folkcomunicação é um termo utilizado desde 1967 por Luiz Beltrão, pesquisador da área da comunicação, com o objetivo de relacionar o estudo da comunicação popular e do folclore com a difusão de meios de comunicação de massa. Tem sua importância nas camadas menos favorecidas ou à margem da grande mídia. José Marques de Melo, outro pesquisador, afirma que essa compreensão do folclore é uma cultura de resistência. Isso demonstra que ele estava antenado ao conceito de folkcomunicação como cultura dos marginalizados, defendido por Luiz Beltrão e outros estudiosos. Além de Beltrão e Marques de Melo, destaca se uma figura importante na cultura brasileira e na difusão da folkcomunicação, o médico, pesquisador e folclorista Theo Brandão, que teve seus estudos criticados inicialmente, rotulados de heréticos e imaginosos, quando retratou o folclore alagoano. Porém, ele recebeu a devida consideração e reconhecimento com a confirmação dos seus pontos de vista pelos modernos pesquisadores da cultura popular, um quarto de século depois. Sendo a folkcomunicação, ou seja, a comunicação popular e do folclore, uma cultura de resistência, de resgate e, conseqüentemente, de preservação, os docentes poderão se utilizar dela a fim de resgatar, vivenciar e aprender, com sua própria história, tradições e costumes. Existem instituições de ensino que não valorizam tais conhecimentos, produzindo, assim, uma grande massa de excluídos culturalmente.

Revista Nós da Escola - Numa época marcada pela tecnologia e pela globalização, qual é a importância das culturas populares?
Carlos Henrique - É importante separar o conceito de tecnologia do de internet, pois a tecnologia já existe desde os tempos das cavernas, quando os homens inventaram instrumentos e técnicas para a caça, registro de gravuras etc. A internet é uma rede de computadores que utiliza recursos tecnológicos para seu funcionamento. Surgiu nos anos 90, a partir da evolução de outra rede, denominada Arpanet Americana, que foi criada nos anos 60. Um dos mais importantes recursos tecnológicos, mas que não é único, é o computador. Quanto à globalização, temos este conceito evidenciado desde a década de 70, quando Marshall McLuhan apresentou o discurso das novas mídias, rádio e televisão como meio de acesso e convergência cultural. Acreditava, assim, que a diversidade cultural seria mais bem compreendida e publicizada. Dentro desta perspectiva, podemos compreender que o uso massivo da mídia influenciou nossa cultura popular. As manifestações chegaram até nossas casas; os programas de TV, rádio e a própria internet socializaram parte desses conhecimentos. É lógico que tudo isso foi feito dentro de uma visão capitalista.

Revista Nós da Escola - É correto afirmar que o jovem de hoje se encontra cada vez mais distante do folclore e das manifestações culturais?
Carlos Henrique - Sim, pois os valores são outros. Muitos jovens já nascem conectados em um mundo digital, permeados pelas redes e com um forte interesse pelas novas culturas tecnológicas. Mas vemos ainda muitas escolas tradicionais que não conseguem trabalhar nossas tradições e práticas culturais, fortalecendo, assim, o individualismo e a dissocialização do sujeito. O folclore é a maneira de agir, pensar e sentir de um povo ou grupo, com as qualidades ou atributos que lhes são inerentes, seja qual for o lugar onde se situem. Não é apenas o passado, a tradição; ele é vivo e está ligado à nossa vida de um jeito muito forte. Por isso, é tão importante conhecê-lo. O saber folclórico é aquele que aprendemos informalmente no mundo, por meio do convívio social. Ele é universal, embora aconteçam adaptações locais ou regionais, como conseqüência dos acréscimos da coletividade. Folclore é o conjunto de coisas que o povo sabe, sem saber quem ensinou. Portanto, o jovem necessita manter contato com esta cultura a fim de conhecer e dominar o mundo que o cerca.

Revista Nós da Escola - Como despertar o interesse por esses conteúdos?
Carlos Henrique - Acredito que os primeiros valores culturais são desenvolvidos em casa, na família, posteriormente na escola, por fim, na sociedade. Quanto mais acesso à informação ocorrer, por parte dos sujeitos, mais bem trabalhadas serão as culturas. O desenvolvimento de atividades pedagógicas em torno do folclore é uma importante contribuição na formação do espírito de cidadania e de nacionalidade do aluno. Ao mesmo tempo em que ele passa a se perceber como ser universal, cidadão do mundo, ele sente necessidade de conhecer suas raízes, identificando-se com seu grupo social, sua linguagem, sua história e a de sua comunidade. O professor deve saber aproveitar o atraente, rico e variado mundo do folclore como fonte inesgotável de motivação didática e de elevada importância pedagógica. Ele precisa selecionar o que vai utilizar, pois nem toda manifestação folclórica serve como material didático. Os modelos escolhidos pelo professor precisam ser adequados à idade e ao tempo disponível para estudo e ensaio. Deve ser avaliados do ponto de vista da sua utilidade para a comunidade, identificando-se, primeiramente, os aspectos da cultura popular, no lugar onde vivem os alunos, para, depois, extrapolar limites geográficos.

Revista Nós da Escola - Vivemos em uma sociedade em rede, permeada pelo uso dos recursos tecnológicos. Que efeitos isso tem nas práticas de ensino e que desafios traz?
Carlos Henrique - A convivência entre tradição e modernidade é um desafio para as práticas de ensino no contexto da escola. A rapidez e conseqüente fluidez de acontecimentos e transformações em todas as áreas do conhecimento ocupam o nível macro da sociedade, mas resistem em nível microssocial à vontade e à ação de grupos humanos no sentido de manter e/ou redefinir suas tradições sem abdicar totalmente delas. Ao contrário, esses grupos parecem sentir a necessidade de expandir sua influência e, assim, resistir à massificação globalizada. Esta redefinição e/ou luta pela manutenção das tradições culturais vê se defronte a novas necessidades e demandas criadas pela modernidade e transmitidas pelas novas tecnologias, rapidamente popularizadas pelo mercado.

Revista Nós da Escola - Levando em consideração essa realidade, qual é o desafio da escola hoje?
Carlos Henrique - A escola tem como desafio estimular, encantar o aluno para uma aprendizagem significativa, que, além de trabalhar o tradicional currículo, deve desenvolver atividades e ações conjuntas entre professores e alunos, por meio de trabalhos voltados para a implantação de atividades ligadas ao folclore brasileiro nas escolas, utilizando-se de instrumentos interdisciplinares, abarcando o que constitui o domínio das chamadas ciências da cognição, da epistemologia, da história, da sociologia, da transmissão do conhecimento, da educação, da criação e da mudança. Metodologicamente, esse enfoque parte do reconhecimento de que o homem tem seu comportamento alimentado pela aquisição de conhecimento, pela construção, desconstrução e reconstrução de fazer(es) e saber(es) que lhes permitem sobreviver e transcender. A escola deve potencializar sua inteligência coletiva, ou seja, o professor deverá ser um mediador, principalmente, no processo de construção do aprendizado.

Entrevista concedida a Fábio Aranha, repórter da Revista Nós da Escola, da MULTIRIO. Acesse o conteúdo na íntegra no Portal da MULTIRIO - www.multirio.rj.gov.br