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sábado, 12 de fevereiro de 2011

DANÇA PARA CRIANÇAS

a partir de 3 anos

A proposta de “Dança para crianças” visa o desenvolvimento pleno do ser humano. Para isso tem como
meta mobilizar o potencial expressivo da criança em sua relação com o espaço, com o corpo e com o movimento. Nos encontros semanais, as crianças pequenas experimentam possibilidades de movimento, exploram o espaço, inventam suas próprias danças, compartilham as suas idéias, e com isso aprimoram a coordenação motora, a musicalidade e a orientação espacial de maneira lúdica e criativa.

RESPONSÁVEL:

Melina Sanchez: Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos; Graduada em Terapia Ocupacional pela mesma universidade; Especializada em Dança Educação pelo Trinity Laban (Londres) e Caleidos Arte e Ensino. Desde 1997 vem atuando na interface com Educação Musical e ministrando aulas de Dança para bebês,crianças, jovens e pessoas com deficiência.
Trabalhou no Programa Fábricas de Cultura da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo com formação continuada de arte educadores. Atualmente é integrante da Caleidos Cia de Dança, professora na Pós Graduação em Educação Musical Faculdade Cantareira e na Graduação em Música / UAB da UFSCar.

HORÁRIO: 4ªs-feiras

8:30 às 9:30 – Crianças de 3 a 5 anos
9:30 às 11:00 – Crianças de 6-8 anos

LOCAL: Estúdio Flamenco Ale Kalaf
Rua André Casado, 258 - Pompéia  (Transversal da Av. Pompéia)
São Paulo
Contato: (11) 8490 7000 - Melina

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Corpo e Dança na Educação Infantil, por Isabel Marques

* Isabel Marques é diretora do Instituto Caleidos e do Caleidos Cia. de Dança, em São Paulo, capital.


Quero neste texto discutir com vocês e levantar questões sobre o papel da dança na Educação Infantil e como ela pode favorecer a construção de um corpo lúdico, crítico, voltado para a cidadania contemporânea.

Antes de passarmos à dança propriamente dita, quero primeiro deslocar nossos olhares para os principais atores da Educação Infantil: os alunos e os professores e suas relações com a dança.

Como professores, aprendemos que, para trabalhar com a dança na escola, é interessante conhecermos os alunos, seus corpos, suas danças. Sabemos que, partindo e trabalhando a realidade corporal dos alunos podemos também trabalhar com o universo sócio-cultural dos mesmos e, assim, estabelecer relações críticas com a sociedade em que vivemos.

Acima de tudo, para que nossa proposta pedagógica na área de dança seja consistente e transformadora, quero sugerir que precisamos conhecer também os conceitos, os sonhos, o imaginário das crianças a respeito da arte da dança. O que é dança para elas? Com que danças se identificam?

Que mundo imaginário a dança traz para elas? Por exemplo: os alunos sabem/gostam das danças da mídia? Ou preferem as danças brasileiras que aprenderam com os adultos em festas populares? Os alunos acham que dançar é fazer balé? Sonham em se tornar uma Ana Botafogo, ou seja, uma bailarina famosa? Que visão os meninos têm da dança? Trazem de casa preconceitos e/ou frases prontas do tipo “dança é coisa de mulher”? E assim por diante.

Raramente, no entanto, paramos para olhar para nossos próprios corpos de professores, para as danças que dançamos, para os conceitos, sonhos e desejos que temos em relação à dança. Quantas professoras, quando meninas, sonharam em fazer dança e foram privadas desta possibilidade por razões econômicas, corporais ou morais? Quantas de nós adoraria sair para dançar toda semana, mas não sai?

Reclamamos, muitas vezes, de que as crianças só gostam das danças da TV, de que estão “bitoladas” pela indústria cultural, de que não assistem outro tipo de dança. Mas, e nós, professores: que danças dançamos, assistimos, gostamos? Será que somente as crianças sucumbem ao poder universal e unilateral da mídia ou terminamos todos os domingos em frente à TV assistindo passivamente às bailarinas do Faustão? Fora da sala de aula, de nosso papel educador explícito, que relações temos com a arte da dança, com a produção cultural de nossa cidade e país? O que é dança para nós? Dança é mesmo “coisa de mulherzinha”?

Freqüentemente nos esquecemos de que nossos conceitos, práticas, escolhas e valores corporais e artísticos têm influência direta nas relações que estabelecemos com os alunos em sala de aula. Acima de tudo, o diálogo não-verbal que se estabelece diariamente entre professores e alunos é fruto destes conceitos, práticas e valores sobre o corpo e sobre o corpo que dança. Quero começar pela definição de dança na escola.

Para a maioria das crianças, e também para muitos professores, dança é sinônimo de “coreografia”, ou seja, de uma seqüência de movimentos interligados pela música. Se olharmos ao redor, é assim mesmo que a dança se apresenta para nós - das danças projetadas na TV às danças populares, passando pelos espetáculos de balé e pelos passos da dança de salão. Não podemos esquecer que hoje, até o carnaval, outrora sinônimo de “expressão individual”, está coreografado: as comissões de frente das escolas de samba e alguns trios elétricos, por exemplo, já estipulam passos, trajetórias, movimentos antes mesmo da festa começar.

O problema não está tanto neste conceito de dança, pois, afinal, a dança como arte é sim também um produto acabado que pode ser compartilhado com o público. Em situação pedagógica, no entanto, este conceito de dança é um tanto limitado e limitante pois, quando levamos estas danças “prontas” para a escola, resta às crianças simplesmente executarem a dança do adulto.

Sem dúvida nenhuma, uma dança pronta e bem acabadinha, todo mundo fazendo certinho e ao mesmo tempo, pode ser “bonito de ver”, mas estes são novamente os olhos do adulto sobre a criança. Para as crianças, as danças que chegam a seus corpos prontas e pré-determinadas (coreografias da TV, das danças populares, das professoras) não deixam espaço para que criem, brinquem, joguem com o corpo.

Não custa nada refletirmos novamente sobre o papel da escola na educação corporal e no aprendizado da arte. Que valores, conceitos, atitudes estamos trabalhando com as crianças se as faço repetir tudo que mando? Ou seja, para além da beleza estética “para mãe e diretora verem”, qual o papel da dança na escola em relação à formação do indivíduo, da construção da cidadania e da arte?

A dança, como área de conhecimento, permite uma leitura e uma releitura diferenciada de nós mesmos, dos outros e do mundo. Por meio do corpo que dança, estabelecemos relações com os sons, as imagens, as palavras e as narrativas que nos circundam e podemos dialogar com elas. Portanto, a dança cumpre um importante papel na educação do indivíduo/cidadã o crítico e transformador.

Nos últimos anos tenho trabalhado com uma abordagem para o ensino da dança que nomeei “a dança no contexto” (Marques, 2001). Esta abordagem tem como princípio básico a criação de redes de relações entre a dança, o indivíduo e a sociedade que nos cerca. Inter-relacionados, estes três aspectos do ensino-aprendizado da dança nos permitem ampliar e problematizar não somente os conceitos e as visões de dança estabelecidas, mas, sobretudo, repensar nossas práticas educacionais. Comecemos pelo vértice do indivíduo.

Conhecemos de longa data a importância do corpo na constituição do sujeito. A percepção cinestésica do mundo (via corpo em movimento) propiciada pela dança nos possibilita abrir caminhos de crescimento e comunicação que não necessitam, necessariamente, da linguagem oral. As crianças pequenas que conhecem, saboreiam e aprendem as possibilidades do corpo em movimento poderão sem dúvida estabelecer uma forma pessoal e diferenciada de estar no mundo. As sensações, o prazer e o desprazer, os gostos e desgostos também estão no corpo: (re)conhecê-los, saber fazer escolhas, comunicar-se com os outros faz parte da educação do corpo, pois o corpo é fonte de auto-conhecimento.

Seria muito simplório, no entanto, pensarmos o papel da dança na Educação Infantil hoje somente sob o prisma do indivíduo. Sabemos que o indivíduo se constitui como sujeito a partir das relações sociais que estabelece com o mundo, ou seja, o plano cultural, político e social estabelecem relações diretas com o ser, construindo seu corpo, seus hábitos, atitudes.

Nossas histórias estão marcadas no corpo, sejamos crianças ou adultos. Ou seja, nossas experiências ao longo da vida vão construindo o corpo e a forma de estarmos no mundo (Johnson, 1991). É por isso que dizemos que o corpo, biológico, é socialmente construído. Mas, como se dá a construção do corpo?

A forma como fomos embalados na primeira infância, o número de irmãos com quem tivemos de “compartilhar” nossos pais, a própria presença ou ausência dos pais; os amigos que tivemos, os parentes, a forma como nos relacionamos com desconhecidos nos ensinam atitudes corporais. Ou seja, as relações que estabelecemos com as pessoas são carregadas de valores, princípios, atitudes e afetos que incorporamos ao longo da vida e que constituem a forma como somos e estamos no mundo.

Do mesmo modo, as atividades corporais que experimentamos (brincadeiras, jogos, fazer arte, afazeres domésticos) vão construindo nosso corpo e fazendo com que nos relacionemos com a vida de formas diferentes. Pensemos, por exemplo, em crianças que desde tenra idade devem ajudar a mãe nos afazeres domésticos (atividade corporal regular, com regras, classificação etc); ou, ao contrário, aquelas que nunca se quer arrumaram os brinquedos. As crianças que têm oportunidade de expandirem seus corpos, correrem, pularem são bem diferentes daquelas que só ficam sentadinhas fazendo lição na mesinha. As primeiras, em geral, são crianças que percebem seu entorno de forma mais ampla, mais profunda e mais apurada e, portanto, estabelecem relações com os outros de forma mais significativa.

Não podemos nos esquecer, claro, dos espaços arquitetônicos que “ensinam” nos corpos, ou seja, nos ensinam a atuar no mundo. O tipo de casa em que vivemos (grande, pequena, sobrado, apartamento, condomínio etc), o prédio da escola (tamanho das salas, acesso aos brinquedos, parque, escadas etc), a possibilidade ou não de estar em espaços abertos fazem com que nossos corpos sejam construídos de formas bem distintas.

Em suma, o corpo, uma das fontes de comunicação com as pessoas e com o mundo não é somente nosso habitat, um instrumento para nos ajudar a dançar e a viver. Em outras palavras, nós não “temos” um corpo, nós “somos” o nosso corpo, corpo este construído a partir das relações que estabeleço comigo mesmo, com os outros e com o meio ambiente. Portanto, a construção da cidadania passa, necessariamente, pela percepção e construção do corpo.

A dança, arte eminentemente corporal, é mais uma forma de construirmos o corpo e, portanto, de construirmos a cidadania que queremos. A partir das danças que dançamos introjetamos valores, atitudes e posturas diante dos outros e da vida. Em outras palavras, aquilo que aprendemos por meio das danças que praticamos é mais uma forma de estarmos no mundo e de construirmos a sociedade em que vivemos.

Aqui voltamos ao início deste texto: que indivíduos e que cidadãos estamos construindo se, na escola, fazemos com que as crianças somente repitam passos e danças criadas por adultos? Muito provavelmente corpos passivos, sem atitude, sem iniciativa, sem crítica, ou aquilo que Michel Foucault (1979) chamou de “corpos dóceis”. Opostamente a isso, se nos levarmos pelo impulso do laissez-faire, do deixar fazer livremente o que vier ao corpo e à cabeça das crianças, estamos trabalhando valores, atitudes e princípios também opostos: a criança egoísta, sem limites e/ou percepção do outro e do mundo.

Penso que seria interessante refletirmos a respeito da dança na escola sob outra perspectiva: sugerirmos danças que permitam às crianças brincarem, explorarem, improvisarem, enfim, criarem suas formas de ser e de estar no mundo a partir da orientação e do trabalho dialógico do professor.

Se estivermos de acordo que mandar executar movimentos e seqüências adultas prontas compromete vários aspectos da educação cidadã, vimos que o oposto disso, ou seja, colocar uma música e sugerir que as crianças “dancem livremente”, é também uma ilusão de educação. A idéia de que toda criança dança naturalmente, é espontânea e não tem condicionamentos corporais não passa de um romantismo ingênuo sobre o corpo em sociedade (Marques, 2003).

Quem já tentou fazer esta atividade e teve como resposta as danças codificadas da mídia ou movimentos adultos nos corpos das crianças, se deu conta de que as crianças não são “purinhas”. Ao contrário, elas estão contaminadas de sociedade, de cultura, de relações político-sociais. Os corpos das crianças são corpos sociais, únicos, claro, mas sociais: são como esponjas absorvendo seu meio ambiente, as relações, a cultura em torno.

Por outro lado, podemos pensar que as danças das crianças são um amálgama da classe, do gênero, da etnia e da religião a que pertencem. Ao professor cabe gerar, orientar e propor bases para que os alunos possam descobrir os elementos deste amálgama, redescobri-los de forma consciente e gerar suas próprias sínteses corporais. Ou seja, o que as crianças já sabem, vivem, saboreiam em seus corpos? O que podem inventar e reinventar a partir disso?

Há várias formas de sugerir às crianças que brinquem com seus corpos e inventem suas danças a partir de suas histórias corporais. A primeira delas é trabalhar com os próprios elementos da linguagem da dança: o espaço, o corpo, os ritmos, as ações corporais, os relacionamentos. Como seria uma dança somente no chão? Que movimentos o cotovelo pode fazer? Que formas os corpos ocupam no espaço? Como é dançar uma dança lenta com uma música rápida? E assim por diante.

Outra proposta geradora de dança é sugerir que os alunos observem movimentos ao redor: carros, liquidificador, esguicho, pessoas - que movimentos eles fazem? Por quê? Quando? Onde? Como refazê-los no corpo? Estas observações podem se estender para observação da própria dança, ou seja, da dança como arte do movimento a partir de vídeos, idas ao teatro, figuras.

O meio ambiente também é gerador de dança, pois oferece diferentes espaços para que os corpos possam se movimentar, expandirem-se, recolherem-se, locomoverem- se. Do mesmo modo, as relações com as pessoas, através do toque ou do olhar podem gerar danças únicas, próprias de cada um, de suas histórias passadas, presentes e futuras.

Dentro de uma concepção problematizadora da dança na Educação Infantil, hoje seria importante pensarmos o corpo que dança sob uma perspectiva lúdica, flexível, perceptiva e relacional. As danças que sugerimos em sala de aula devem permitir escolhas, olhares diferentes para os corpos, para os outros para o mundo. Desta forma, não estaremos educando corpos e indivíduos dóceis, mas sim corpos e indivíduos críticos, conscientes e transformadores.

Referências bibliográficas

Foucault, M. (1979). Vigiar e punir. Rio de Janeiro: Vozes.

Johnson, Don (1994). Corpo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Marques, I. (2001). Ensino de dança hoje: textos e contextos. São Paulo: Cortez.
Marques, I. (2003). Dançando na escola. São Paulo: Cortez.

*Isabel Marques é diretora do Instituto Caleidos e do Caleidos Cia. de Dança, em São Paulo, capital.

Fonte: Sítio do Instituto Caleidos - www.caleidos.com.br
Linque: http://www.caleidos.com.br/canalcaleidos_artigos.html

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Oficina de Cavalo Marinho no Instituto Brincante, em SP

Oficina de Cavalo Marinho com: PEDRO SALUSTIANO
Nascido e criado nas tradições populares, Pedro é um dos filhos do Mestre Salustiano, e desde cedo se dedica ao Cavalo Marinho e ao Maracatu Rural. Como bailarino participou do Grupo Grial de Dança e do Espetáculo “O Marco do Meio Dia” de Antonio Nóbrega. Em 2006, ministrou aulas de Cavalo Marinho para o elenco e participou como ator da mini- série “A Pedra do Reino” (TV GLOBO).

Turma A - Dias 13,15 e 17 de julho (2ª. 4ª. e 6ª.) - Das 19h30 às 21h30
Turma B - Dias 14, 16 e 18 de julho (3ª. 5ª. e Sáb.) - Das 10h30 às 12h30

Investimento:
Alunos do Instituto: 60,00 (os 3 dias) 25,00 aulas avulsas
Público em geral: 90,00 (os 3 dias) 35,00 aulas avulsas

As inscrições poderão ser feitas na secretaria do Instituto ou através de depósito bancário.Mais informações 3816 0575 ou www.institutobrincante.org.br
Instituto Brincante: Purpurina, 428 | Vila Madalena | São Paulo | 11 3816 0575

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Oficina: A Dança na Educação (PUC-SP)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Núcleo de Trabalhos Comunitários

CONVIDA PARA
OFICINA: A DANÇA NA EDUCAÇÃO

A oficina visa promover entre os participantes a interação da linguagem da Dança com propostas diversas sob o viés pedagógico. Por meio de práticas e metodologias, nos interessa discutir o trabalho em Dança no ambiente educativo formal e não-formal.

Conteúdos:
Processo educativo; Motricidade Humana; Práticas escolares e a educação não-formal; Propostas metodológicas para o trabalho com Arte na educação (Ana Mae Barbosa, Currículo e Projetos); Dança Educativa – Sistema Laban de Análise do Movimento, Planejamento de aula e interdisciplinaridade.

Carga horária: 8 horas
Valor: R$ 80,00
29 de novembro e 06 de dezembro
(sábados das 09h às 13h)

Local: PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica)
Inscrições Abertas – fone: 3864-6503 / 3864-7377
e-mail: ntc@pucsp.br/ntc/
http://www.pucsp.br/ntc

sábado, 8 de novembro de 2008

A capoeira como instrumento de valorização cultural das crianças no Ensino Fundamental, por Tzusy E. de Mello

A CAPOEIRA COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO CULTURAL DAS CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Tzusy Estivalet de Mello.
Grupo de pesquisa em Educação Física Escolar, FE/USP.
Disponível em www3.fe.usp.br/efisica/trabs/52.doc

Resumo:
Este relato tem por objetivo apresentar o trabalho desenvolvido com a 1ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Samuel Klabin situada na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, mais especificamente na Vila Dalva.
O projeto “Capoeira: Cultura e movimento” busca dentro da disciplina de Educação Física trabalhar a história, os movimentos e a musicalidade da Capoeira como forma de reafirmar e fortalecer a cultura corporal produzida pela comunidade na qual a escola está inserida.
A idéia surgiu nos primeiros dias de aula onde as seguintes perguntas foram feitas aos alunos: “-Quais atividades (jogo, esporte, luta, dança, ginástica) são realizadas na comunidade que mais lhe interessam?”, “- Quais os movimentos acontecem a nossa volta?”
Dentre as respostas surgiram brincadeiras, futebol, danças, e a Capoeira.
Em seguida foi questionado:“- Entre essas atividades quais gostaria de ver em nossas aulas?”
Além da Capoeira ter sido escolhida para ser estudada durante o 1º semestre, a motivação dos alunos despertou na comunidade escolar, principalmente nos pais, um grande interesse pelo assunto dando ainda mais relevância ao nosso estudo.
Acreditamos que mediante este Projeto podemos trabalhar questões sócio-históricas contribuindo desde a 1ª série do ensino fundamental para a formação de um cidadão que conheça sua história, saiba construir suas idéias, interpretando os fatos de forma crítica e autônoma.
Palavras Chave: Capoeira - cultura corporal - escola

Introdução:
Ao planejar o conteúdo didático pedagógico a ser desenvolvido na disciplina de educação física neste primeiro semestre com as 1ªs séries da Escola Estadual Samuel Klabin, situada na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, a principal preocupação era afirmar o espaço de nossas aulas como “viabilizador de transformações”, tendo a cultura produzida pelo aluno como eixo principal.

Á luz de Moreira e Candau (2003), acreditamos que educação e cultura “não podem ser concebidas como dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma via tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados” (p.160), ou seja, toda experiência pedagógica é portadora de cultura. Desta forma, se faz necessário situar-se culturalmente informando-se sobre os modos de vida desta população, conhecendo histórias, expectativas, padrões culturais e relações de poder.
Como forma de “legitimar os discursos e as vozes” dessas crianças, inserindo-se em uma perspectiva multicultural crítica da educação, realizamos uma pesquisa junto aos alunos das 1as séries sobre a cultura corporal da comunidade, questionando á respeito dos movimentos produzidos por aquela população, sendo que esta foi respondida pelas crianças e também por seus familiares, amigos e vizinhos. Apareceram muitas brincadeiras, danças, “jogar bola” e a Capoeira.

Diante dessas respostas formulamos a seguinte pergunta (agora para ser respondida apenas pelos alunos da classe):“- Entre essas atividades (brincadeiras, futebol, danças, e a Capoeira), qual gostaria de ver em nossas aulas?”

A capoeira foi escolhida de forma unânime por quatro 1as séries, seguida das brincadeiras e do “jogar bola”.

Com o andamento de nosso trabalho, conhecendo os movimentos da Capoeira, sua história, musicalidade e as relações de poder, gênero e classes que a envolvem, houve um grande interesse da comunidade escolar, o que fez com que pais, irmãos, e colegas de outras classes também tivessem um significativo envolvimento em nossas aulas, contando histórias á respeito da Capoeira, dando oficinas, ensinando músicas e a tocar os instrumentos.

Assim como Canen (2001), reconhecemos que ao estimularmos a auto-estima do aluno, estaremos contribuindo para a valorização do seu ser, para a sua identidade, o que constituem pré-requisitos essenciais para a aprendizagem na linha intercultural (p.221).

Ao perceber o envolvimento da comunidade escolar, vimos a importância deste elemento da cultura corporal para esta comunidade e o quanto está sendo significativo este trabalho, o qual valoriza e legitima a cultura dessa comunidade.

Metodologia
Após conhecer previamente a cultura corporal produzida pela comunidade na qual a escola está inserida, realizar pesquisa junto aos alunos das 1as séries sobre a cultura corporal da comunidade e os alunos escolherem um elemento da cultura corporal referente as respostas obtidas na pesquisa realizada, a qual foi a Capoeira, fomos pesquisar o que é Capoeira, situá-la historicamente, conversamos sobre questões referentes à raça, gênero e poder (as quais surgem a todo momento e são debatidas durante todo o processo) e socializamos os conhecimentos prévios de cada aluno. Esta primeira etapa teve a duração de um mês, sendo finalizada no início do mês de abril.

Depois dessa primeira etapa, estamos conhecendo os movimentos, instrumentos e musicalidade e socializando saberes de familiares, alunos da escola e amigos da comunidade á respeito da Capoeira em forma de oficinas, rodas de conversa, jogo, e demonstrações.
Na etapa final a qual começa em junho, iremos construir um painel com nossos conhecimentos á respeito da Capoeira, realizaremos uma grande roda de Capoeira com alunos das 1as series e comunidade escolar e faremos uma avaliação junto aos alunos fazendo relação entre os conhecimentos prévios e os conhecimentos adquiridos no decorrer de nossas aulas.

Referências Bibliográficas:
CANEN, A. Universos Culturais e Representações Docentes: Subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural. Educação e Sociedade, 2001, v. 22, n. 77, p. 207-227.

MOREIRA, A. F. & CANDAU, V. M. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, 2003, n. 23, p. 156-168.

A inserção da Capoeira nos espaços formais de educação: Jogo de dentro / jogo de fora, por Nascimento e Fensterseifer

A inserção da capoeira nos espaços formais de educação: jogo de dentro/jogo de fora

Paulo Rogerio Barbosa do Nascimento*
paulonascimento@urisan.tche.br

Paulo Evaldo Fensterseifer**
fenster@unijui.tche.br

*Professor de EF, Mestre em Educação nas Ciências/Unijui-Ijuí-RS.
Professor da disciplina de Metodologia do ensino de lutas na Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Santo Ângelo-RS.
**Professor Doutor em Educação/UNICAMP.
Professor do curso de Educação Física da Unijuí/Ijuí-RS.
(Brasil)

Resumo:
A capoeira, fenômeno sócio-histórico-cultural se apresenta socialmente configurada de diversas formas, inserida nos mais diversos espaços sociais, e encerra inúmeras contradições, de cunho social, cultural, econômico e político. Espaços formais de educação têm de fato se constituídos em vias privilegiadas no processo veloz de expansão social da capoeira. Em meio a esta inter-relação capoeira e escola, transitam tanto interesses comuns como contraditórios. É necessário tentar compreender de forma ampla a relação entre capoeira, escola, Educação Física, os condicionantes desta relação e as implicações que dessa inter-relação advêm, para que a partir da compreensão de escola, como não sendo apenas espaço de reprodução cultural, então visualizar posturas críticas possíveis de serem adotadas no trato deste conteúdo pela própria disciplina curricular de Educação Física.
Unitermos: Capoeira. Escola. Educação Física.


http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007

Introdução

A escola é um espaço cultural dinâmico que, tanto absorve e é influenciado por aspectos diversos das práticas culturais inseridas em seus espaços, como as renega ou as influencia, estudando-as, contestando-as, significando-as de formas diversas. Estabelece-se, assim, um contínuo jogo de dentro/jogo de fora, que no âmbito da capoeira significa, justamente, o embate caracterizado pela aproximação e o afastamento, negociado/estudado corporalmente entre os dois jogadores, continuamente mediado pela ginga1 e pela malícia2. Portanto, serão referendados nas reflexões que seguem, aspectos sócio-culturais que permeiam a capoeira que está presente tanto no contexto extra escolar com no espaço escolar, assim como a configuração da capoeira como tema/conteúdo da disciplina curricular de Educação Física escolar.


Capoeira na/da escola e Educação Física escolar: jogo de dentro/jogo de fora

A inserção da capoeira no âmbito escolar ocorre principalmente através das aberturas que a escola vem preconizando para atividades extra curriculares. Invariavelmente a capoeira está sendo introduzida na escola por agentes com formação ou em formação na área de Educação Física; porém, a mesma geralmente configura-se em atividade paralela nas escolas, formal ou informalmente, sem necessariamente ser conteúdo da disciplina curricular de Educação Física escolar.

Em muitas realidades, o que está presente na escola é um braço operacional de algum grupo de capoeira. Acontece muitas vezes, uma reciprocidade positiva entre escola, grupos de capoeira e comunidade em geral. Desta forma, a capoeira constitui-se como uma opção a mais nas escolas e nas comunidades e muitos trabalhos significativos têm decorrido dessas ações.

Para além de ver a capoeira como simplesmente uma opção a mais nas escolas, no âmbito cultural e esportivo, também se percebe na dinâmica de sua inserção nestes espaços, a constituição de um campo de trabalho para muitos dos envolvidos neste processo.

Esse campo de trabalho, informal, com a capoeira, para Falcão (2004, p. 49), se configura, com mais força, influenciado pelo fenômeno da reestruturação do capitalismo e mundialização do capital, o qual contribui para, "condições de vida cada vez mais deterioradas de significativa parcela da humanidade", e, por outro lado, "uma minoria com níveis altíssimos de bem-estar". Segundo o autor, os níveis de desemprego cada vez maiores, assim como a desestruturação das relações de trabalho, através da preconizada flexibilização nestas relações, destituem alguns direitos historicamente adquiridos pela classe trabalhadora e geram novas e desesperadas tentativas de sobrevivência. Dessa forma muitas pessoas, têm se utilizado da capoeira como possibilidade real de trabalho.

O autor percebe também que esta possibilidade de inserção no mundo do trabalho através da capoeira é de fato um "filão" para muitos jovens atualmente. Também é preciso considerar que a "meninada" mais nova nem sempre se põe, conscientemente num primeiro momento, a desbravar a escola como local de trabalho com a capoeira. Isso parece que vai sendo vislumbrado com o tempo, pois esta iniciativa, muitas vezes, inicialmente, está ligada a uma motivação do "mestre" de capoeira, este sim, invariavelmente com o interesse mercadológico, e quando não por este fator, geralmente por um entusiasmo idealista movido pela sua paixão, às vezes momentânea, pela capoeira ou pela possibilidade de "status" que ela pode lhe conferir em seu grupo e/ou na comunidade.

Considerando que o mundo da capoeira tem relativa vida própria, tem seus próprios valores e é repleto de pré-conceitos, de disputas entre grupos e praticantes, bem como, considerando que o universo da capoeira é recheado de crenças, filosofias e mitos, que de certa forma são constituintes do seu imaginário, construído historicamente, e que os mesmos "atravessam" seus praticantes, constituindo suas mentalidades, pode-se realizar uma tentativa de externar algumas implicações que, querendo ou não, também convergem para o contexto da escola nas diversas formas em que a capoeira nela se insere.

Diversos "movimentos", "situações", "configurações" que se apresentam no cenário amplo e diversificado da capoeira são elementos interessantes que compõem o universo complexo da capoeira e também relevantes do ponto de vista de uma análise mais voltada para a prática pedagógica, uma vez que os mesmos não ficam de fora dos muros da escola e nem mesmo da disciplina curricular Educação Física. Esses elementos do universo e, também do imaginário da capoeira, muitas vezes não são percebidos no contexto mais amplo da sociedade e, nem sempre, por aprendizes desta prática, que se tornam, em muitos casos, multiplicadores de um discurso, no mínimo, discutível, ferrenhos defensores de seu "grupo", "mestre" e "ideologias".

É parte do contexto da capoeira a introjeção, inconsciente ou não, de "mitos" que justificam fatos e procedimentos os mais diversos, nem sempre propugnando valores humanos defensáveis, pelos quais, através do discurso de uma educação crítica e emancipatória, no nosso entendimento, a escola deveria se orientar.

Quanto a esses mitos ou conteúdos ideológicos, Vieira (s.d, p. 47) faz uma importante análise, quando se refere aos sofismas sobre a capoeira como falsas verdades que direcionam posturas e ações dos jogadores de capoeira sob o argumento da tradição. Cita o autor a "violência explícita" como algo justificável em discursos que exaltam a capoeira como prática de luta pela liberdade, "onde o escravo não media seus esforços" para conquistá-la.

Segundo o autor, a luta pela liberdade conformava, com certeza, ações guerreiras no dia a dia dos escravos; porém, o autor vê como falsa a idéia de que, na atualidade, a capoeira não possa se pautar por princípios éticos necessários e defensáveis para se nortear a vida em sociedade, como aqueles que visam à preservação da integridade física de seus praticantes.

Entre outras leituras possíveis, mais recentemente, e de clara manifestação no cenário da capoeira em geral, podemos considerar o fenômeno dos capoeiristas "bombados3", o que certamente não é apenas exclusividade desta prática. Muitos desses capoeiristas, "bombados" ou não, na roda e no mundo da capoeira, procuram roubar a cena e/ou manter seus "status", ou territórios, usando, muito mais, seus músculos do que o cérebro e, nem de perto, considerando que a tônica do jogo bem poderia ser jogar com e não contra. Tal postura é comum em alguns jogadores de capoeira na atualidade, ou até mesmo de grupos inteiros e em muitos casos reduz a beleza da arte.

Outro fator que repercute diretamente nos terrenos onde está inserida a capoeira, é a crescente esportivização e a mercadorização da mesma. A incorporação pela capoeira dos padrões do esporte institucionalizado, de alto rendimento, baseado nos princípios de sobrepujança e comparações objetivas (KUNZ, 1994).

Isto tem gerado uma crescente especialização desta prática e de seus praticantes. Uma preocupação, decorrente desses fatores, levantada por Falcão (1995, p. 14) é de que, aos poucos, a grande massa de seus jogadores torne-se cada vez menos dona do destino do jogar e fazer a capoeira, ficando as decisões cada vez mais sob a responsabilidade burocrática institucional, o que contribui para o acirramento da separação entre "expectadores" e "especializados".

A lógica do mercado, empresarial, é certamente a lógica com que a maioria dos grupos de capoeira está desenvolvendo suas atividades atualmente. Daí surge às franquias de capoeira, a comercialização e a produção em série dos mais variados artigos ligados à capoeira, as aulas estruturadas aos moldes das "ginásticas da moda", feitas em séries e padronizadas, e a associação da capoeira e/ou seus grupos a marcas de produtos diversos que optam por patrocinar esta atividade por ter em seus praticantes um público consumidor em potencial, como no caso dos suplementos alimentares (FALCÃO, 2004, p. 68 e 70).

Diante de certo padrão esportivo e mercadológico que vem influenciando o desenvolvimento da capoeira, é interessante considerar a observação de Vieira (1989, p. 61 e 62), que chama atenção para um fenômeno intrínseco à prática da capoeira no seu universo particular, constituindo um conjunto de fatores que favorecem a reprodução de determinados "clichês" gestuais, capazes de garantir "status" e que, por isso, tendem a ser reproduzidos e absorvidos, mesmo por indivíduos de grupos diversos, sem muito contato entre si. O autor denomina esse processo como "unidimensionalização da capoeira", o que pode desembocar na "supressão das características estéticas" e numa redução da "possibilidade de se constituir num meio de expressão espontânea das características individuais", negando, assim, "a vocação libertária da arte-luta que surgiu para a emancipação de um segmento social escravizado". Esse fenômeno pode ser encarado certamente como um produto da atual massificação da capoeira4.

É importante a percepção dessas configurações atuais da capoeira, uma vez que sua inserção nos diversos contextos sociais não é desinteressada e nem despida dos significados que lhe são atribuídos.

É justamente no contexto da escola que se evidencia, no momento atual, que seus agentes estão buscando legitimação e criando certa demanda pela mesma no plano cultural e educacional e conseqüentemente esportivo e mercadológico.

Considerando-se essas afirmações, é interessante evidenciar como possibilidade para a capoeira como prática presente, de alguma forma, na escola, nas suas várias formas de inserção, portanto também passível de ser analisada/estudada e pensada através dos diversos referenciais teóricos que por esse espaço necessariamente devem transitar, a postura a que Falcão (1998, p. 56) se refere como "interesse utópico de construir uma re significação do sentido da capoeira", que, para o autor, também "veicula muito conteúdo ideológico de conotação racista e machista" e "vem incorporando-se, sistematicamente, à lógica da mercadorização e da esportivização".

O autor se refere também ao fato de que o contato "fragmentado" e "inconsciente" dos (as) alunos (as) com aspectos da cultura corporal de movimento pode também estar se dando no âmbito da escola e daí a necessidade de reflexão de todos os envolvidos com este processo. Parte-se, então, da premissa de que, não desconsiderando o caráter reprodutor da escola, a mesma tem espaços de relativa autonomia, que podem se configurar em resistências e desequilíbrios das tendências reprodutoras (PÉREZ GOMES, apud OLIVEIRA, 1999, p. 23). Ou ainda, como propõe Vago, num diálogo com Bracht acerca do tema "esporte na escola" e o "esporte da escola":

...a escola, como instituição social, pode produzir uma cultura escolar de esporte que, ao invés de reproduzir as práticas hegemônicas na sociedade [...] estabeleça com elas uma relação de tensão permanente, num movimento propositivo de intervenção na história cultural da sociedade (1996, p. 4).

A tentativa de compreensão dos processos históricos influenciados e influenciadores do desenvolvimento da capoeira evidência toda uma construção, permeada de conflitos no campo social e cultural, que de certa forma serviram de base para o atual quadro de expansão da mesma e conseqüentemente para a configuração dos formatos através dos quais ela se apresenta hoje na sociedade. A apreensão dos inúmeros conteúdos inscritos nesta prática e a capacidade de engendrá-los com um trato específico através da disciplina curricular de Educação Física escolar, sob a ótica da cultura corporal de movimento, é certamente um desafio que está posto.

A capoeira, como uma prática da cultura corporal de movimento passível de estar mais presente nos currículos escolares, possui inscritos conteúdos históricos e socioculturais, que a colocam numa dimensão privilegiada em relação a algumas modalidades esportivas naturalizadas na escola. Estas se encontram destituídas de seus significados históricos e sociais passíveis de análise e estudo, precisando passar por um esforço de "revestimento" dos mesmos. Esta naturalização está permeada pela hegemonia da lógica esportiva.

O fato da capoeira não encontrar-se ainda totalmente despida destas complexidades, lhe garante o status de um conteúdo altamente significativo, também no contexto escolar, que para além da dimensão esportiva, necessita ser mantido e compreendido numa esfera mais ampla, mantendo-se o foco de abordagem na direção contrária de uma tendência a certa assepsia de sua prática em relação aos fatores históricos, sociais e culturais que lhe são constituintes. Em outros termos, a escola pode contribuir para a manutenção dessa riqueza, obviamente se não ceder a lógica objetivadora da ciência moderna e ao utilitarismo contemporâneo.

Talvez uma possibilidade interessante para o professor de Educação Física escolar, em relação à capoeira, seja a de compreender que seu papel na escola não é tão somente o de reproduzir tecnicamente uma prática, incorporar o mestre de capoeira, comprometido com esta ou aquela ideologia de grupo ou esta ou aquela concepção de capoeira, mas proporcionar o "estudo" da capoeira, através da ação e da reflexão, de uma prática sistematizada, transformada didática e pedagogicamente, objetivando romper com "reducionismos", que são muito criticados na área de Educação Física (KUNZ, 1994). Nesse sentido, o professor de Educação Física tem seu papel (re)significado, passando de mero instrutor de ginástica ou técnicas esportivas a um tematizador5 das atividades da cultura corporal de movimento, sendo que a capoeira pode ser um dos conteúdos a serem tematizados, sem a obrigatoriedade de haver um "treinamento" em capoeira ou uma vivência profunda de capoeira tanto do professor como do aluno, e sim uma postura crítica de querer conhecer e estudar.

Nessa concepção, é interessante considerar o que escreve Fensterseifer (2001, p. 271), em sua reflexão sobre o espaço escolar, ao afirmar ser este um lugar privilegiado para um projeto emancipatório, "tendo em vista que teoricamente poderia e deveria ser local onde o exercício da crítica permanecesse livre dos limites impostos pelos doutrinarismos".

Desta maneira teríamos na escola não somente a assimilação passiva das atividades extra-escolares (conteúdos), com seus interesses e lógicas, mas sim a incumbência de conforme Fensterseifer (2001, p. 272) "produzir um conhecimento crítico a partir desses conteúdos". Seria o entendimento da disciplina de Educação Física escolar como sendo espécie de "janela" para melhor ver/compreender o mundo.


Considerações finais

Neste momento histórico, como visto, é fato a aproximação mais efetiva da capoeira, com status de esporte, mercadoria e ou prática da cultura corporal de movimento do cenário escolar. Diante das análises efetuadas, considera-se que a escola tem um compromisso, tem uma especificidade, que é de possibilitar aos seus alunos a estruturação e o entendimento a respeito do mundo e dos fenômenos que nele ocorrem de uma forma mais ampla possível. Assim, a disciplina curricular de Educação Física definitivamente não será, conforme a perspectiva deste estudo, o lugar de formação do jogador de capoeira, e sim de Tematização da capoeira, visando contribuir na formação do cidadão que possivelmente poderá usufruir da capoeira e de outras práticas da cultura corporal de movimento no seu cotidiano de vida da forma mais autônoma possível.


Notas

Para Reis (2000, p. 181), o jogo de capoeira é ambíguo, ao aparentar uma "oposição entre a rebeldia passiva e a rebeldia ativa", e a ginga é o elemento principal dessa "ambivalência". A ginga pode ser entendida como negociação intermitente.

A malícia pode ser entendida como a capacidade de percepção apurada e antecipada do jogo de capoeira e do contexto da roda de capoeira como um todo. Percepção das intenções subjacentes, as contradições e etc.

A expressão "bombados" é amplamente utilizada no meio esportivo, no universo das academias de ginástica, assim como no universo da capoeira, para se referir a pessoa que adquire ou adquiriu considerável volume de massa muscular utilizando-se de esteróides anabolizantes.

Uma prática muito comum na atualidade, nos eventos de capoeira, que reúnem um número muito grande de pessoas são os chamados "aulões" de capoeira, que consiste numa aula ao comando de algum mestre de capoeira, onde movimentações e gestos são imitados aos moldes de uma aula de ginástica. As imagens dos "aulões de capoeira" em fitas de VHS e ou DVD, correm o mundo. Também participantes destas programações ao voltarem aos seus locais de origem onde ensinam à capoeira, chegam com as novidades em termos de movimentações, tanto para uso pessoal no seu jogo desenvolvido nas rodas de capoeira, como para incrementar suas aulas ao ensinar uma nova movimentação da "moda".

O termo "Tematizador" ou "tematização" é utilizado, neste estudo, como a possibilidade de trato aos conteúdos de ensino na Educação Física como sendo fenômenos "sócio-culturais"; diz respeito à compreensão de que, para além do aspecto físico-técnico da atividade em si, que não se exclui, deve-se também tentar proporcionar à vivência, a compreensão, a crítica e a possível (re) significação do mesmo, como também sendo de ordem "cultural, política, ideológica ou histórica" (DAOLIO, 2004).


Referências

FALCÃO, José Luiz Cirqueira. Capoeira e/na Educação Física. In: Revista Sprint, Rio de janeiro, nº. 79, p. 10-14, jul/ago de 1995.

______. Unidade didática 2 - Capoeira. In: KUNZ, Elenor (org). Didática da Educação Física 1. Ijuí: Unijuí, 1998. p. 55-94.

_____. O Jogo da Capoeira em Jogo e a Construção da Práxis Capoeirana. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, 2004. 368 p.

FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. A Educação Física na Crise da Modernidade. Ijuí: Unijuí, 2001. 304 p.

KUNZ, Elenor. Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. Ijuí: Unijuí, 1994. 160 p.

OLIVEIRA, Sávio Assis de. Escola e Esporte: campos para ocupar, resistir e produzir. In: Revista Pensar a Prática, nº. 3, jul/jun, p. 19-35, 1999-2000.

VIEIRA, Luiz Renato. Criatividade e clichês no jogo da capoeira: a racionalização do corpo na sociedade contemporânea. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, nº. 1, vol. 11, set/1989. p. 58-63.

______. Mentiras que parecem verdades: alguns sofismas sobre a capoeira. In: Revista Capoeira, ano II, nº. 5, [s.d]. P. 46-49.

VAGO, Tarcísio Mauro. O "Esporte na Escola" e o "Esporte da Escola": da negação radical para uma relação de tensão permanente/ um diálogo com Valter Bracht. In: Revista Movimento, ano III, nº. 5, 1996. p. 4-17.