Espaço virtual de encontro e troca de idéias, conhecimentos e experiências sobre o trabalho 'arteiro' com crianças da educação infantil e do ensino fundamental em desenho, pintura, colagem, graffiti, dança, música, teatro, poesia, contos, etc
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Campanha em prol da ONG Capoeira Capaz, em São Paulo
Com sede na Rua João Dias Verjara, 826, no Jardim Olinda, São Paulo-SP, Eduardo e outros professores atendem voluntariamente crianças de escolas públicas na região, que participam de aulas de capoeira, danças folclóricas brasileiras e encontram ambiente saudável e cultural, que em breve contará com biblioteca, brinquedoteca, aulas inglês e também de reforço escolar.
Para as crianças participarem deste projeto, é fundamental que elas estejam matriculadas e frequentando aulas no Ensino Fundamental ou Médio, além de obter bom desempenho, por meio de boas notas. Além disso, devem ser comportadas e dispostas a querer um futuro melhor.
O intuito da Capoeira Capaz é ajudar a educá-las, junto com suas respectivas famílias, para que elas tenham um futuro digno, uma convivência feita de solidariedade, companheirismo e amor ao próximo. Para conhecer melhor a proposta, visitem o site www.capoeiracapaz.org.br
O projeto Capoeira Capaz vai completar 2 anos em novembro deste ano e vai comemorar com um grande evento para todas as crianças e moradores do bairro onde o projeto acontece.
Convidamos a todos que quiserem conhecer de perto o projeto e participar dos eventos. Caso tenha interesse acesse o site www.capoeiracapaz.org.br ou entre em contato com Eduardo.
O projeto Capoeira Capaz tem tido repercussão internacional, atraindo professores da Alemanha, da Suécia e dos Estados Unidos, países em que o professor Eduardo tem ministrado cursos também.
Aproveitamos a oportunidade para convidá-los a colaborar com o Capoeira Capaz doando camisetas brancas, tipo hering, a partir do tamanho 8.
Quem desejar, pode entrar em contato com Eduardo para oferecer outros tipos de doação ou trabalho voluntário, no e-mail capazcapoeira@hotmail.com ou no telefone tel [11] 8149 7901)
“Acreditamos no seu interesse em fazer parte de nossa estória e ajudar nosso projeto com doações para o evento e em contrapartida com a divulgação da logo marca de sua empresa ou comércio. Todos nós vamos agradecer e temos certeza que sua atitude fará muitas crianças felizes!
Estamos precisando de 200 camisetas brancas e 40 calças de capoeira. Contamos com sua generosidade em contribuir com doações.”
Abraços,
Professor Eduardo Areias
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Festival Nacional Capoeira sem Fronteiras - de 12 a 14 de dezembro
CURSO COM MESTRE CAPIXABA (ES)
PROGRAMAÇÃO
DIA 12/12/08
Curso Capoeira: MESTRE CAPIXABA
HORÁRIO: 19:00 ÁS 22 :00
LOCAL: Escola Prof. Flávio J. O.. Negrini – JD Olinda/SP
DIA 13/12/08
Curso Capoeira: MESTRE CAPIXABA
HORÁRIO (manhã): 10:00 ÁS 12:00
HORÁRIO (tarde): 15:00 ÁS 18:00
LOCAL: Escola Prof. Flávio J. O.. Negrini – JD Olinda/SP
DIA 14/12/08
RODA NO PARQUE DO IBIRAPUERA- SP
HORÁRIO :10:00 ÀS 12:00
FESTIVAL NACIONAL CAPOEIRA SEM FRONTEIRAS
BATIZADO E TROCA DE CORDAS CAPOEIRA, MACULELÊ E SAMBA DE RODA
HORÁRIO: 15:00 ÁS 17 :00
Local: Escola Prof. Flávio J. O.. Negrini
INGRESSO: 1 kg de alimento não perecível.
LOCAL DOS CURSOS
ESCOLA ESTADUAL PROF J.O. NEGRINI
RUA : CASIMIRO 66 , BAIRRO JARDIM OLINDA, SÃO PAULO SP , TEL 11 8149 7901 , 8634 8481
Mais Informações visite o site: www.capoeiracapaz. org.br
EDUARDO AREIAS
TEL [11] 8149 7901
domingo, 30 de novembro de 2008
DVD resgata o papel pedagógico e cultural da capoeira brasileira em Campinas

(Clique na imagem para ampliar o folder)
O mestre de capoeira Paulão, do Grupo Coquinho Baiano de Campinas, vai lançar um DVD sobre a história da Capoeira no Brasil e no mundo.
Vão ocorrer diversos eventos sobre o tema entre os dias 11 e 14 de dezembro.
O mestre Paulão milita em prol da Capoeira há 38 anos, é compositor de músicas afro-brasileiras, malabarista, faz apresentações de samba e pagode com seus amigos, é um dos cientistas populares que tanto ajudam a enriquecer as culturas e o folclore do povo brasileiro.
Nesse ano, esteve na Itália, para lecionar sobre a cultura afro-brasileira, e atua em Campinas e em todo o Brasil em prol da difusão dos saberes populares das músicas e das danças do país.
Já foi cortador de cana-de-açúcar, junto com sua família, e hoje é um dos defensores do Movimento Negro. Existe também um site, com várias informações:
www.coquinhobaiano.org.br.
O lançamento do DVD vai ocorrer na Estação Guanabara, que fica na rua Mário Siqueira, sem número, no centro, em Campinas.
O mestre disse que tem interesse em unir as redes de comunicação sobre a capoeira e outras manifestações afro-brasileiras, para que, assim, seja possível focar e aprofundar, com intensidade, as atividades.
Uma das propostas que estão sendo discutidas é a possibilidade de incluir a Capoeira entre as modalidades oferecidas pelas Olimpíadas.
O telefone de contato dele é (19) 81995791. O e-mail dele é:
sábado, 22 de novembro de 2008
Capoeira sem Fronteiras
É com muito prazer que convido você, para nosso Festival Nacional “CAPOEIRA SEM FRONTEIRAS” organizado pela Capoeira CAPAZ, que será realizado nos dias 12, 13 e 14 de dezembro de 2008 com a participação de vários capoeiristas do Brasil.
Também participarão do evento, representantes da Capoeira Capaz da Suécia e Espanha e será ministrado curso prático com o Mestre Rogério Medeiros (Mestre Capixaba de Vitória -ES).
No dia 14.12.08 ás 15h acontecerá o encerramento do Festival, com Batizado e Troca de Cordas, Maculelê e Samba de Roda apresentados pelos alunos da ONG Capoeira CAPAZ.
O ingresso para assistir o evento do dia 14.12 será substituído por 1 kg de alimento não perecível que será doado à uma comunidade indígena Guarani, localizada na região do Pico do Jaraguá em São Paulo e através de outro evento especial que você também será convidado.
PROGRAMAÇÃO
DIA 12/12/08
Curso Capoeira: MESTRE CAPIXABA
HORÁRIO: 19:00 ÁS 22 :00
LOCAL: Escola Prof. Flávio J. O.. Negrini – JD Olinda/SP
DIA 13/12/08
Curso Capoeira: MESTRE CAPIXABA
HORÁRIO (manhã): 10:00 ÁS 12:00
HORÁRIO (tarde): 15:00 ÁS 18:00
LOCAL: Escola Prof. Flávio J. O.. Negrini – JD Olinda/SP
DIA 14/12/08
RODA NO PARQUE DO IBIRAPUERA- SP
HORÁRIO :10:00 ÀS 12:00
FESTIVAL NACIONAL CAPOEIRA SEM FRONTEIRAS
BATIZADO E TROCA DE CORDAS CAPOEIRA, MACULELÊ E SAMBA DE RODA
HORÁRIO: 15:00 ÁS 17 :00
Local: Escola Prof. Flávio J. O.. Negrini
INGRESSO: 1 kg de alimento não perecível.
LOCAL DOS CURSOS
ESCOLA ESTADUAL PROF J.O. NEGRINE
RUA : CASIMIRO 66 , BAIRRO JARDIM OLINDA, SÃO PAULO SP , TEL 11 8149 7901, 8634 8481
CURSO DO MESTRE CAPIXABA (3 dias): R$60,00
www. capoeiracapaz.org.br
ORGANIZAÇÃO PROF KIDURO
EDUARDO AREIAS
TEL [11] 8149 7901
www.capoeiracapaz.org.br
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
A capoeira é um sentimento
Já são 20 anos de capoeira.... Parece que foi ontem que comecei a treinar!
Foi amor à primeira vista. Com a capoeira aprendi e aprendo muito a cada dia. Acho que cada um nasce com uma missão na vida e eu acredito que nasci para a capoeira. Minha missão é educar, cuidar, ajudar o próximo, isso é o que me faz me sentir realizado e grato pela vida. Confesso que não tenho motivos para reclamar da minha vida, acredito que tudo que eu tenho foi Deus quem me deu. Aprendi pouco a pouco, à aceitar os desafios como uma forma de recompensa, sabendo que após uma tempestade a serenidade é uma conseqüência. O maior ensinamento que Deus nos deixou foi a importância de amar ao próximo. Quando estou dando aula, tenho esta exata certeza de que o amor contagia. Vejo que todos estão felizes e cria-se uma troca de energias positivas além de um sentimento de alegria sem fim.
Especialmente, quando estou na ONG Capoeira Capaz, parece que esqueço de meus problemas ou das dificuldades cotidianas. Ali de fato existe uma troca de experiências e sentimentos que não se explicam e tampouco tem preço. Minha motivação e alegria em ajudar na ONG, são movidas pelo sorriso de uma criança. A capoeira é uma manifestação cultural brasileira desenvolvida no Brasil na época colonial e passou por várias mudanças até os dias de hoje. Na capoeira não existe distinção de cor, diferença de sexo ou idade, tampouco classe social. É um ajudando o outro a enfrentar as dificuldades da vida como foi na época da escravidão. Afinal, hoje somos escravos da modernidade, do trânsito, de nossas dívidas, de nossos orgulhos e personalidade. Assim, nada melhor do que a capoeira para nos libertar disto tudo. A capoeira é do bem!!
Se você me pedisse um conselho para uma vida melhor, eu diria: “Vamos jogar capoeira, vamos tocar berimbau, vamos cuidar de nossos amigos, vamos cuidar de nossos filhos, vamos cuidar de nossa família, vamos cuidar de nós mesmo!”. Escrevo isto pois na vida, a melhor coisa que temos é saber que um dia fizemos algo de bom não só para nós mesmos, mas para mais alguém, e ter a certeza de que este alguém também fará a mesma coisa para uma outra pessoa. É assim que vejo a capoeira e o ciclo mágico da vida: como uma manifestação do relacionamento humano movido pela sua fórmula mais preciosa e original, AMAR AO PRÓXIMO COMO DEVEMOS AMAR A NÓS MESMOS.
Eduardo Areias (Kiduro )
terça-feira, 11 de novembro de 2008
A capoeira inserida em meu trabalho...
Capoeira Capaz, Capoeira da Paz
Imagine um professor de educação física e mestre de capoeira que decide ofererecer uma opção de formação cidadã a essas crianças através da caopeira.
Imagine as crianças aprendendo a jogar capoeira e, muito mais que isso, conhecendo melhor seu corpo, vendo que ele é capaz de ter ritmo, força, agilidade, e criar movimentos harmoniosos, precisos e rápidos.
Imagine as crianças aprendendo sobre a herança africana nessa manifestação cultural brasileira, aprendendo a valorizar esses povos historicamente marginalizados, aprendendo que eles têm um conhecimento importante a transmitir e, assim, superando preconceitos e desenvolvendo tolerância?
Imagine que as crianças aprendam que a capoeira foi uma forma de praticar uma luta disfarçada de dança, que foi um recurso inteligente utilizado pelos escravizados para cultivarem sua cultura, suas práticas corporais, desenvolvendo sua defesa sem que os opressores se dessem conta? Imaginem que conhecimento valioso, aprender a resistir à opressão e à violência com recursos sofisticados como esse, unindo forças para manter, ainda que semi-ocultas, suas práticas e seus costumes?
Imagine que na roda de capoeira eles aprendam que todos são iguais, que na roda é sempre preciso um parceiro para jogar, que o parceiro é também respeitado, pois o jogo começa com um cumprimento.
Imagine o quanto aprendem sobre seus corpos, suas possibilidades e limites, como desenvolver seus movimentos controlando força, velocidade, equilíbrio...
Imagine que, para participar disso tudo, nada precisem pagar, mas que tenham que frequentar a escola e ter um bom desempenho escolar. Que incentivo, que apoio à escola esse vínculo.
Imagine que os adultos, mestres de capoeira, são pessoas de bem, que se importam com o outro e realizam voluntariamente seu trabalho, educando não apenas com palavras, mas também com exemplos...
Tudo isso não é imaginação. É realidade, e acontece na ONG Capoeira Capaz. As crianças atendidas vêm da periferia do Jardim Olinda (próximo a Campo Limpo) e participam das aulas de capoira gratuitamente. Aprendem e ensinam tudo isso. Tive o privilégio de vê-las jogando capoeira, e fiquei encantada com sua agilidade, sua alegria ao jogar, o domínio dos movimentos de seu corpo...
Conheço o professor Eduardo, fundador da ONG. Ele é um cara legal, alegre, gentil e sério com as crianças. Tem um compromisso com elas como poucas vezes vi, um respeito pelas crianças e um jeito de lidar com elas que também inspira respeito e admiração. É um jovem professor que dá aula em escolas particulares também, e devota seu tempo, seus recursos e seus conhecimentos a essas crianças. Não é muito conhecido no Brasil, embora já tenha dado algumas entrevistas. Mas viajou pela Europa mostrando o Brasil, nossa cultura e nossa capoeira.
Quando vejo seu trabalho, e o dos professores que atuam com ele na ONG, renovo aquela fé idealista, aquela crença em fazer a diferença, em mudar a vida das pessoas. Os valores estão distorcidos, muita gente crê que para ser feliz é preciso ter, ter cada vez mais, comprar, consumir... Mas não é essa a lógica que segue a ONG Capoeira Capaz, como tantas ONGs e projetos sociais que temos no Brasil, que foram ocupando os vácuos de ação social que o Estado deixou, procurando melhorar a vida das pessoas. A alegria de doar-se (e não doar aquilo que nos sobra)dá sentido à vida dessas pessoas, e ensina aqueles que com elas têm o privilégio de conviver.





Biblioteca Capaz
A leitura é importante. Ziraldo, escritor infantil, pai do Menino Maluquinho, diz que "ler é mais importante que estudar". Concordo plenamente. Lendo, descobrimos outros mundos, vivemos outras aventuras, podemos ser e fazer qualquer coisa através da imaginação. Aprendemos também. Sobre a língua, sobre os lugares e sobre os povos. Então, pensamos em dar às crianças da ONG também o prazer de ler. Não ler para responder a questões de uma prova, mas para se divertir.
Daí surge a idéia de montarmos uma biblioteca para as crianças. Que legal se elas puderem levar livros para ler em casa, com as famílias, ou esparramar-se na própria ONG para desfrutar de momentos de leitura e imaginação! Mas precisamos de livros... Por isso, surge a campanha Biblioteca Capaz, que pretende arrecadar doaações de livros para as crianças e adolescentes.
Brinquedoteca Capaz
Brincar também é importante. É essencial na infância, e por que não, por toda a vida. Brincando reelaboramos nossas experiências no mundo, nos socializamos, desenvolvemos habilidades e conhecimentos novos...
Vamos dar às crianças um espaço e materiais para brincadeiras? Será que elas já têm acesso a bonecas, carrinhos, jogos, casinhas, etc? Assim começamos também a arrecadar brinquedos, tornando a ONG um espaço mais acolhedor e divertido para as crianças...
Sonho que se sonha só
É sonho que se sonha. Só.
Sonho que se sonha junto é realidade.
(Raul Seixas)
Quer sonhar junto? Visite o site da ONG Capoeira Capaz: www.capoeiracapaz.org.br
E venha dividir esse sonho...
Selma de Assis Moura
sábado, 8 de novembro de 2008
Reflexões oportunas sobre a Capoeira na educação
Acredito que a inserção da capoeira no currículo escolar pode trazer benefícios em múltiplas dimensões da formação das crianças: desde a melhoria da qualidade do movimento, a consciência de seu corpo e o desenvolvimento de habilidades corporais, até o fortalecimento de sua auto-estima, do respeito ao outro e à convivência em grupo.
Mas vejo, na realidade em que trabalho, que a capoeira traz uma enorme contribuição em termos de legitimar o conhecimento de uma parcela da população que durante séculos esteve excluída do que se convencionava como o saber válido, valorizado e transmissível às futuras gerações.
A capoeira, uma prática corporal que integra luta, dança, jogo, ginga, de um jeito tão brasileiro, foi uma forma de resistência durante os séculos de escravidão no Brasil. Sobreviveu à perseguição, fortaleceu-se como prática cultural e gradualmente alcançou status na sociedade, integrando-se ao rol de conhecimentos com valor reconhecido. Espalhou-se pelo mundo, penetrou escolas públicas e particulares, e tem sido um veículo de conhecimento de nossa cultura, de nossas raízes e de nossa história.
Acredito que esse papel pode sem dúvida ampliar-se. Se, na escola, a capoeira estiver presente não apenas como uma prática mas também como objeto de conhecimento e tema para reflexão entre professores e alunos, pode constituir-se em uma forma de promover o conhecimento, a valorização e o interesse pelas culturas afro-brasileiras.
Disponibilizei no blog dois textos, que estão abaixo, para fomentar a reflexão sobre o papel que a capoeira vem assumindo na escola. Não apenas nesse mês de novembro, em que um feriado marca a luta pelo reconhecimento da importância africana na constituição do país, mas de modo sistemático e constante, faz bem refletirmos sobre as possibilidades de inserção da capoeira e de outras práticas culturais na escola como forma de promover conhecimento e cidadania.
Selma de Assis Moura
A capoeira como instrumento de valorização cultural das crianças no Ensino Fundamental, por Tzusy E. de Mello
Tzusy Estivalet de Mello.
Grupo de pesquisa em Educação Física Escolar, FE/USP.
Disponível em www3.fe.usp.br/efisica/trabs/52.doc
Resumo:
Este relato tem por objetivo apresentar o trabalho desenvolvido com a 1ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Samuel Klabin situada na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, mais especificamente na Vila Dalva.
O projeto “Capoeira: Cultura e movimento” busca dentro da disciplina de Educação Física trabalhar a história, os movimentos e a musicalidade da Capoeira como forma de reafirmar e fortalecer a cultura corporal produzida pela comunidade na qual a escola está inserida.
A idéia surgiu nos primeiros dias de aula onde as seguintes perguntas foram feitas aos alunos: “-Quais atividades (jogo, esporte, luta, dança, ginástica) são realizadas na comunidade que mais lhe interessam?”, “- Quais os movimentos acontecem a nossa volta?”
Dentre as respostas surgiram brincadeiras, futebol, danças, e a Capoeira.
Em seguida foi questionado:“- Entre essas atividades quais gostaria de ver em nossas aulas?”
Além da Capoeira ter sido escolhida para ser estudada durante o 1º semestre, a motivação dos alunos despertou na comunidade escolar, principalmente nos pais, um grande interesse pelo assunto dando ainda mais relevância ao nosso estudo.
Acreditamos que mediante este Projeto podemos trabalhar questões sócio-históricas contribuindo desde a 1ª série do ensino fundamental para a formação de um cidadão que conheça sua história, saiba construir suas idéias, interpretando os fatos de forma crítica e autônoma.
Palavras Chave: Capoeira - cultura corporal - escola
Introdução:
Ao planejar o conteúdo didático pedagógico a ser desenvolvido na disciplina de educação física neste primeiro semestre com as 1ªs séries da Escola Estadual Samuel Klabin, situada na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, a principal preocupação era afirmar o espaço de nossas aulas como “viabilizador de transformações”, tendo a cultura produzida pelo aluno como eixo principal.
Á luz de Moreira e Candau (2003), acreditamos que educação e cultura “não podem ser concebidas como dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma via tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados” (p.160), ou seja, toda experiência pedagógica é portadora de cultura. Desta forma, se faz necessário situar-se culturalmente informando-se sobre os modos de vida desta população, conhecendo histórias, expectativas, padrões culturais e relações de poder.
Como forma de “legitimar os discursos e as vozes” dessas crianças, inserindo-se em uma perspectiva multicultural crítica da educação, realizamos uma pesquisa junto aos alunos das 1as séries sobre a cultura corporal da comunidade, questionando á respeito dos movimentos produzidos por aquela população, sendo que esta foi respondida pelas crianças e também por seus familiares, amigos e vizinhos. Apareceram muitas brincadeiras, danças, “jogar bola” e a Capoeira.
Diante dessas respostas formulamos a seguinte pergunta (agora para ser respondida apenas pelos alunos da classe):“- Entre essas atividades (brincadeiras, futebol, danças, e a Capoeira), qual gostaria de ver em nossas aulas?”
A capoeira foi escolhida de forma unânime por quatro 1as séries, seguida das brincadeiras e do “jogar bola”.
Com o andamento de nosso trabalho, conhecendo os movimentos da Capoeira, sua história, musicalidade e as relações de poder, gênero e classes que a envolvem, houve um grande interesse da comunidade escolar, o que fez com que pais, irmãos, e colegas de outras classes também tivessem um significativo envolvimento em nossas aulas, contando histórias á respeito da Capoeira, dando oficinas, ensinando músicas e a tocar os instrumentos.
Assim como Canen (2001), reconhecemos que ao estimularmos a auto-estima do aluno, estaremos contribuindo para a valorização do seu ser, para a sua identidade, o que constituem pré-requisitos essenciais para a aprendizagem na linha intercultural (p.221).
Ao perceber o envolvimento da comunidade escolar, vimos a importância deste elemento da cultura corporal para esta comunidade e o quanto está sendo significativo este trabalho, o qual valoriza e legitima a cultura dessa comunidade.
Metodologia
Após conhecer previamente a cultura corporal produzida pela comunidade na qual a escola está inserida, realizar pesquisa junto aos alunos das 1as séries sobre a cultura corporal da comunidade e os alunos escolherem um elemento da cultura corporal referente as respostas obtidas na pesquisa realizada, a qual foi a Capoeira, fomos pesquisar o que é Capoeira, situá-la historicamente, conversamos sobre questões referentes à raça, gênero e poder (as quais surgem a todo momento e são debatidas durante todo o processo) e socializamos os conhecimentos prévios de cada aluno. Esta primeira etapa teve a duração de um mês, sendo finalizada no início do mês de abril.
Depois dessa primeira etapa, estamos conhecendo os movimentos, instrumentos e musicalidade e socializando saberes de familiares, alunos da escola e amigos da comunidade á respeito da Capoeira em forma de oficinas, rodas de conversa, jogo, e demonstrações.
Na etapa final a qual começa em junho, iremos construir um painel com nossos conhecimentos á respeito da Capoeira, realizaremos uma grande roda de Capoeira com alunos das 1as series e comunidade escolar e faremos uma avaliação junto aos alunos fazendo relação entre os conhecimentos prévios e os conhecimentos adquiridos no decorrer de nossas aulas.
Referências Bibliográficas:
CANEN, A. Universos Culturais e Representações Docentes: Subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural. Educação e Sociedade, 2001, v. 22, n. 77, p. 207-227.
MOREIRA, A. F. & CANDAU, V. M. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, 2003, n. 23, p. 156-168.
A inserção da Capoeira nos espaços formais de educação: Jogo de dentro / jogo de fora, por Nascimento e Fensterseifer
Paulo Rogerio Barbosa do Nascimento*
paulonascimento@urisan.tche.br
Paulo Evaldo Fensterseifer**
fenster@unijui.tche.br
*Professor de EF, Mestre em Educação nas Ciências/Unijui-Ijuí-RS.
Professor da disciplina de Metodologia do ensino de lutas na Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Santo Ângelo-RS.
**Professor Doutor em Educação/UNICAMP.
Professor do curso de Educação Física da Unijuí/Ijuí-RS.
(Brasil)
Resumo:
A capoeira, fenômeno sócio-histórico-cultural se apresenta socialmente configurada de diversas formas, inserida nos mais diversos espaços sociais, e encerra inúmeras contradições, de cunho social, cultural, econômico e político. Espaços formais de educação têm de fato se constituídos em vias privilegiadas no processo veloz de expansão social da capoeira. Em meio a esta inter-relação capoeira e escola, transitam tanto interesses comuns como contraditórios. É necessário tentar compreender de forma ampla a relação entre capoeira, escola, Educação Física, os condicionantes desta relação e as implicações que dessa inter-relação advêm, para que a partir da compreensão de escola, como não sendo apenas espaço de reprodução cultural, então visualizar posturas críticas possíveis de serem adotadas no trato deste conteúdo pela própria disciplina curricular de Educação Física.
Unitermos: Capoeira. Escola. Educação Física.
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007
Introdução
A escola é um espaço cultural dinâmico que, tanto absorve e é influenciado por aspectos diversos das práticas culturais inseridas em seus espaços, como as renega ou as influencia, estudando-as, contestando-as, significando-as de formas diversas. Estabelece-se, assim, um contínuo jogo de dentro/jogo de fora, que no âmbito da capoeira significa, justamente, o embate caracterizado pela aproximação e o afastamento, negociado/estudado corporalmente entre os dois jogadores, continuamente mediado pela ginga1 e pela malícia2. Portanto, serão referendados nas reflexões que seguem, aspectos sócio-culturais que permeiam a capoeira que está presente tanto no contexto extra escolar com no espaço escolar, assim como a configuração da capoeira como tema/conteúdo da disciplina curricular de Educação Física escolar.
Capoeira na/da escola e Educação Física escolar: jogo de dentro/jogo de fora
A inserção da capoeira no âmbito escolar ocorre principalmente através das aberturas que a escola vem preconizando para atividades extra curriculares. Invariavelmente a capoeira está sendo introduzida na escola por agentes com formação ou em formação na área de Educação Física; porém, a mesma geralmente configura-se em atividade paralela nas escolas, formal ou informalmente, sem necessariamente ser conteúdo da disciplina curricular de Educação Física escolar.
Em muitas realidades, o que está presente na escola é um braço operacional de algum grupo de capoeira. Acontece muitas vezes, uma reciprocidade positiva entre escola, grupos de capoeira e comunidade em geral. Desta forma, a capoeira constitui-se como uma opção a mais nas escolas e nas comunidades e muitos trabalhos significativos têm decorrido dessas ações.
Para além de ver a capoeira como simplesmente uma opção a mais nas escolas, no âmbito cultural e esportivo, também se percebe na dinâmica de sua inserção nestes espaços, a constituição de um campo de trabalho para muitos dos envolvidos neste processo.
Esse campo de trabalho, informal, com a capoeira, para Falcão (2004, p. 49), se configura, com mais força, influenciado pelo fenômeno da reestruturação do capitalismo e mundialização do capital, o qual contribui para, "condições de vida cada vez mais deterioradas de significativa parcela da humanidade", e, por outro lado, "uma minoria com níveis altíssimos de bem-estar". Segundo o autor, os níveis de desemprego cada vez maiores, assim como a desestruturação das relações de trabalho, através da preconizada flexibilização nestas relações, destituem alguns direitos historicamente adquiridos pela classe trabalhadora e geram novas e desesperadas tentativas de sobrevivência. Dessa forma muitas pessoas, têm se utilizado da capoeira como possibilidade real de trabalho.
O autor percebe também que esta possibilidade de inserção no mundo do trabalho através da capoeira é de fato um "filão" para muitos jovens atualmente. Também é preciso considerar que a "meninada" mais nova nem sempre se põe, conscientemente num primeiro momento, a desbravar a escola como local de trabalho com a capoeira. Isso parece que vai sendo vislumbrado com o tempo, pois esta iniciativa, muitas vezes, inicialmente, está ligada a uma motivação do "mestre" de capoeira, este sim, invariavelmente com o interesse mercadológico, e quando não por este fator, geralmente por um entusiasmo idealista movido pela sua paixão, às vezes momentânea, pela capoeira ou pela possibilidade de "status" que ela pode lhe conferir em seu grupo e/ou na comunidade.
Considerando que o mundo da capoeira tem relativa vida própria, tem seus próprios valores e é repleto de pré-conceitos, de disputas entre grupos e praticantes, bem como, considerando que o universo da capoeira é recheado de crenças, filosofias e mitos, que de certa forma são constituintes do seu imaginário, construído historicamente, e que os mesmos "atravessam" seus praticantes, constituindo suas mentalidades, pode-se realizar uma tentativa de externar algumas implicações que, querendo ou não, também convergem para o contexto da escola nas diversas formas em que a capoeira nela se insere.
Diversos "movimentos", "situações", "configurações" que se apresentam no cenário amplo e diversificado da capoeira são elementos interessantes que compõem o universo complexo da capoeira e também relevantes do ponto de vista de uma análise mais voltada para a prática pedagógica, uma vez que os mesmos não ficam de fora dos muros da escola e nem mesmo da disciplina curricular Educação Física. Esses elementos do universo e, também do imaginário da capoeira, muitas vezes não são percebidos no contexto mais amplo da sociedade e, nem sempre, por aprendizes desta prática, que se tornam, em muitos casos, multiplicadores de um discurso, no mínimo, discutível, ferrenhos defensores de seu "grupo", "mestre" e "ideologias".
É parte do contexto da capoeira a introjeção, inconsciente ou não, de "mitos" que justificam fatos e procedimentos os mais diversos, nem sempre propugnando valores humanos defensáveis, pelos quais, através do discurso de uma educação crítica e emancipatória, no nosso entendimento, a escola deveria se orientar.
Quanto a esses mitos ou conteúdos ideológicos, Vieira (s.d, p. 47) faz uma importante análise, quando se refere aos sofismas sobre a capoeira como falsas verdades que direcionam posturas e ações dos jogadores de capoeira sob o argumento da tradição. Cita o autor a "violência explícita" como algo justificável em discursos que exaltam a capoeira como prática de luta pela liberdade, "onde o escravo não media seus esforços" para conquistá-la.
Segundo o autor, a luta pela liberdade conformava, com certeza, ações guerreiras no dia a dia dos escravos; porém, o autor vê como falsa a idéia de que, na atualidade, a capoeira não possa se pautar por princípios éticos necessários e defensáveis para se nortear a vida em sociedade, como aqueles que visam à preservação da integridade física de seus praticantes.
Entre outras leituras possíveis, mais recentemente, e de clara manifestação no cenário da capoeira em geral, podemos considerar o fenômeno dos capoeiristas "bombados3", o que certamente não é apenas exclusividade desta prática. Muitos desses capoeiristas, "bombados" ou não, na roda e no mundo da capoeira, procuram roubar a cena e/ou manter seus "status", ou territórios, usando, muito mais, seus músculos do que o cérebro e, nem de perto, considerando que a tônica do jogo bem poderia ser jogar com e não contra. Tal postura é comum em alguns jogadores de capoeira na atualidade, ou até mesmo de grupos inteiros e em muitos casos reduz a beleza da arte.
Outro fator que repercute diretamente nos terrenos onde está inserida a capoeira, é a crescente esportivização e a mercadorização da mesma. A incorporação pela capoeira dos padrões do esporte institucionalizado, de alto rendimento, baseado nos princípios de sobrepujança e comparações objetivas (KUNZ, 1994).
Isto tem gerado uma crescente especialização desta prática e de seus praticantes. Uma preocupação, decorrente desses fatores, levantada por Falcão (1995, p. 14) é de que, aos poucos, a grande massa de seus jogadores torne-se cada vez menos dona do destino do jogar e fazer a capoeira, ficando as decisões cada vez mais sob a responsabilidade burocrática institucional, o que contribui para o acirramento da separação entre "expectadores" e "especializados".
A lógica do mercado, empresarial, é certamente a lógica com que a maioria dos grupos de capoeira está desenvolvendo suas atividades atualmente. Daí surge às franquias de capoeira, a comercialização e a produção em série dos mais variados artigos ligados à capoeira, as aulas estruturadas aos moldes das "ginásticas da moda", feitas em séries e padronizadas, e a associação da capoeira e/ou seus grupos a marcas de produtos diversos que optam por patrocinar esta atividade por ter em seus praticantes um público consumidor em potencial, como no caso dos suplementos alimentares (FALCÃO, 2004, p. 68 e 70).
Diante de certo padrão esportivo e mercadológico que vem influenciando o desenvolvimento da capoeira, é interessante considerar a observação de Vieira (1989, p. 61 e 62), que chama atenção para um fenômeno intrínseco à prática da capoeira no seu universo particular, constituindo um conjunto de fatores que favorecem a reprodução de determinados "clichês" gestuais, capazes de garantir "status" e que, por isso, tendem a ser reproduzidos e absorvidos, mesmo por indivíduos de grupos diversos, sem muito contato entre si. O autor denomina esse processo como "unidimensionalização da capoeira", o que pode desembocar na "supressão das características estéticas" e numa redução da "possibilidade de se constituir num meio de expressão espontânea das características individuais", negando, assim, "a vocação libertária da arte-luta que surgiu para a emancipação de um segmento social escravizado". Esse fenômeno pode ser encarado certamente como um produto da atual massificação da capoeira4.
É importante a percepção dessas configurações atuais da capoeira, uma vez que sua inserção nos diversos contextos sociais não é desinteressada e nem despida dos significados que lhe são atribuídos.
É justamente no contexto da escola que se evidencia, no momento atual, que seus agentes estão buscando legitimação e criando certa demanda pela mesma no plano cultural e educacional e conseqüentemente esportivo e mercadológico.
Considerando-se essas afirmações, é interessante evidenciar como possibilidade para a capoeira como prática presente, de alguma forma, na escola, nas suas várias formas de inserção, portanto também passível de ser analisada/estudada e pensada através dos diversos referenciais teóricos que por esse espaço necessariamente devem transitar, a postura a que Falcão (1998, p. 56) se refere como "interesse utópico de construir uma re significação do sentido da capoeira", que, para o autor, também "veicula muito conteúdo ideológico de conotação racista e machista" e "vem incorporando-se, sistematicamente, à lógica da mercadorização e da esportivização".
O autor se refere também ao fato de que o contato "fragmentado" e "inconsciente" dos (as) alunos (as) com aspectos da cultura corporal de movimento pode também estar se dando no âmbito da escola e daí a necessidade de reflexão de todos os envolvidos com este processo. Parte-se, então, da premissa de que, não desconsiderando o caráter reprodutor da escola, a mesma tem espaços de relativa autonomia, que podem se configurar em resistências e desequilíbrios das tendências reprodutoras (PÉREZ GOMES, apud OLIVEIRA, 1999, p. 23). Ou ainda, como propõe Vago, num diálogo com Bracht acerca do tema "esporte na escola" e o "esporte da escola":
...a escola, como instituição social, pode produzir uma cultura escolar de esporte que, ao invés de reproduzir as práticas hegemônicas na sociedade [...] estabeleça com elas uma relação de tensão permanente, num movimento propositivo de intervenção na história cultural da sociedade (1996, p. 4).
A tentativa de compreensão dos processos históricos influenciados e influenciadores do desenvolvimento da capoeira evidência toda uma construção, permeada de conflitos no campo social e cultural, que de certa forma serviram de base para o atual quadro de expansão da mesma e conseqüentemente para a configuração dos formatos através dos quais ela se apresenta hoje na sociedade. A apreensão dos inúmeros conteúdos inscritos nesta prática e a capacidade de engendrá-los com um trato específico através da disciplina curricular de Educação Física escolar, sob a ótica da cultura corporal de movimento, é certamente um desafio que está posto.
A capoeira, como uma prática da cultura corporal de movimento passível de estar mais presente nos currículos escolares, possui inscritos conteúdos históricos e socioculturais, que a colocam numa dimensão privilegiada em relação a algumas modalidades esportivas naturalizadas na escola. Estas se encontram destituídas de seus significados históricos e sociais passíveis de análise e estudo, precisando passar por um esforço de "revestimento" dos mesmos. Esta naturalização está permeada pela hegemonia da lógica esportiva.
O fato da capoeira não encontrar-se ainda totalmente despida destas complexidades, lhe garante o status de um conteúdo altamente significativo, também no contexto escolar, que para além da dimensão esportiva, necessita ser mantido e compreendido numa esfera mais ampla, mantendo-se o foco de abordagem na direção contrária de uma tendência a certa assepsia de sua prática em relação aos fatores históricos, sociais e culturais que lhe são constituintes. Em outros termos, a escola pode contribuir para a manutenção dessa riqueza, obviamente se não ceder a lógica objetivadora da ciência moderna e ao utilitarismo contemporâneo.
Talvez uma possibilidade interessante para o professor de Educação Física escolar, em relação à capoeira, seja a de compreender que seu papel na escola não é tão somente o de reproduzir tecnicamente uma prática, incorporar o mestre de capoeira, comprometido com esta ou aquela ideologia de grupo ou esta ou aquela concepção de capoeira, mas proporcionar o "estudo" da capoeira, através da ação e da reflexão, de uma prática sistematizada, transformada didática e pedagogicamente, objetivando romper com "reducionismos", que são muito criticados na área de Educação Física (KUNZ, 1994). Nesse sentido, o professor de Educação Física tem seu papel (re)significado, passando de mero instrutor de ginástica ou técnicas esportivas a um tematizador5 das atividades da cultura corporal de movimento, sendo que a capoeira pode ser um dos conteúdos a serem tematizados, sem a obrigatoriedade de haver um "treinamento" em capoeira ou uma vivência profunda de capoeira tanto do professor como do aluno, e sim uma postura crítica de querer conhecer e estudar.
Nessa concepção, é interessante considerar o que escreve Fensterseifer (2001, p. 271), em sua reflexão sobre o espaço escolar, ao afirmar ser este um lugar privilegiado para um projeto emancipatório, "tendo em vista que teoricamente poderia e deveria ser local onde o exercício da crítica permanecesse livre dos limites impostos pelos doutrinarismos".
Desta maneira teríamos na escola não somente a assimilação passiva das atividades extra-escolares (conteúdos), com seus interesses e lógicas, mas sim a incumbência de conforme Fensterseifer (2001, p. 272) "produzir um conhecimento crítico a partir desses conteúdos". Seria o entendimento da disciplina de Educação Física escolar como sendo espécie de "janela" para melhor ver/compreender o mundo.
Considerações finais
Neste momento histórico, como visto, é fato a aproximação mais efetiva da capoeira, com status de esporte, mercadoria e ou prática da cultura corporal de movimento do cenário escolar. Diante das análises efetuadas, considera-se que a escola tem um compromisso, tem uma especificidade, que é de possibilitar aos seus alunos a estruturação e o entendimento a respeito do mundo e dos fenômenos que nele ocorrem de uma forma mais ampla possível. Assim, a disciplina curricular de Educação Física definitivamente não será, conforme a perspectiva deste estudo, o lugar de formação do jogador de capoeira, e sim de Tematização da capoeira, visando contribuir na formação do cidadão que possivelmente poderá usufruir da capoeira e de outras práticas da cultura corporal de movimento no seu cotidiano de vida da forma mais autônoma possível.
Notas
Para Reis (2000, p. 181), o jogo de capoeira é ambíguo, ao aparentar uma "oposição entre a rebeldia passiva e a rebeldia ativa", e a ginga é o elemento principal dessa "ambivalência". A ginga pode ser entendida como negociação intermitente.
A malícia pode ser entendida como a capacidade de percepção apurada e antecipada do jogo de capoeira e do contexto da roda de capoeira como um todo. Percepção das intenções subjacentes, as contradições e etc.
A expressão "bombados" é amplamente utilizada no meio esportivo, no universo das academias de ginástica, assim como no universo da capoeira, para se referir a pessoa que adquire ou adquiriu considerável volume de massa muscular utilizando-se de esteróides anabolizantes.
Uma prática muito comum na atualidade, nos eventos de capoeira, que reúnem um número muito grande de pessoas são os chamados "aulões" de capoeira, que consiste numa aula ao comando de algum mestre de capoeira, onde movimentações e gestos são imitados aos moldes de uma aula de ginástica. As imagens dos "aulões de capoeira" em fitas de VHS e ou DVD, correm o mundo. Também participantes destas programações ao voltarem aos seus locais de origem onde ensinam à capoeira, chegam com as novidades em termos de movimentações, tanto para uso pessoal no seu jogo desenvolvido nas rodas de capoeira, como para incrementar suas aulas ao ensinar uma nova movimentação da "moda".
O termo "Tematizador" ou "tematização" é utilizado, neste estudo, como a possibilidade de trato aos conteúdos de ensino na Educação Física como sendo fenômenos "sócio-culturais"; diz respeito à compreensão de que, para além do aspecto físico-técnico da atividade em si, que não se exclui, deve-se também tentar proporcionar à vivência, a compreensão, a crítica e a possível (re) significação do mesmo, como também sendo de ordem "cultural, política, ideológica ou histórica" (DAOLIO, 2004).
Referências
FALCÃO, José Luiz Cirqueira. Capoeira e/na Educação Física. In: Revista Sprint, Rio de janeiro, nº. 79, p. 10-14, jul/ago de 1995.
______. Unidade didática 2 - Capoeira. In: KUNZ, Elenor (org). Didática da Educação Física 1. Ijuí: Unijuí, 1998. p. 55-94.
_____. O Jogo da Capoeira em Jogo e a Construção da Práxis Capoeirana. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, 2004. 368 p.
FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. A Educação Física na Crise da Modernidade. Ijuí: Unijuí, 2001. 304 p.
KUNZ, Elenor. Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. Ijuí: Unijuí, 1994. 160 p.
OLIVEIRA, Sávio Assis de. Escola e Esporte: campos para ocupar, resistir e produzir. In: Revista Pensar a Prática, nº. 3, jul/jun, p. 19-35, 1999-2000.
VIEIRA, Luiz Renato. Criatividade e clichês no jogo da capoeira: a racionalização do corpo na sociedade contemporânea. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, nº. 1, vol. 11, set/1989. p. 58-63.
______. Mentiras que parecem verdades: alguns sofismas sobre a capoeira. In: Revista Capoeira, ano II, nº. 5, [s.d]. P. 46-49.
VAGO, Tarcísio Mauro. O "Esporte na Escola" e o "Esporte da Escola": da negação radical para uma relação de tensão permanente/ um diálogo com Valter Bracht. In: Revista Movimento, ano III, nº. 5, 1996. p. 4-17.