sábado, 8 de novembro de 2008

A capoeira como instrumento de valorização cultural das crianças no Ensino Fundamental, por Tzusy E. de Mello

A CAPOEIRA COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO CULTURAL DAS CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Tzusy Estivalet de Mello.
Grupo de pesquisa em Educação Física Escolar, FE/USP.
Disponível em www3.fe.usp.br/efisica/trabs/52.doc

Resumo:
Este relato tem por objetivo apresentar o trabalho desenvolvido com a 1ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Samuel Klabin situada na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, mais especificamente na Vila Dalva.
O projeto “Capoeira: Cultura e movimento” busca dentro da disciplina de Educação Física trabalhar a história, os movimentos e a musicalidade da Capoeira como forma de reafirmar e fortalecer a cultura corporal produzida pela comunidade na qual a escola está inserida.
A idéia surgiu nos primeiros dias de aula onde as seguintes perguntas foram feitas aos alunos: “-Quais atividades (jogo, esporte, luta, dança, ginástica) são realizadas na comunidade que mais lhe interessam?”, “- Quais os movimentos acontecem a nossa volta?”
Dentre as respostas surgiram brincadeiras, futebol, danças, e a Capoeira.
Em seguida foi questionado:“- Entre essas atividades quais gostaria de ver em nossas aulas?”
Além da Capoeira ter sido escolhida para ser estudada durante o 1º semestre, a motivação dos alunos despertou na comunidade escolar, principalmente nos pais, um grande interesse pelo assunto dando ainda mais relevância ao nosso estudo.
Acreditamos que mediante este Projeto podemos trabalhar questões sócio-históricas contribuindo desde a 1ª série do ensino fundamental para a formação de um cidadão que conheça sua história, saiba construir suas idéias, interpretando os fatos de forma crítica e autônoma.
Palavras Chave: Capoeira - cultura corporal - escola

Introdução:
Ao planejar o conteúdo didático pedagógico a ser desenvolvido na disciplina de educação física neste primeiro semestre com as 1ªs séries da Escola Estadual Samuel Klabin, situada na periferia da zona oeste da cidade de São Paulo, a principal preocupação era afirmar o espaço de nossas aulas como “viabilizador de transformações”, tendo a cultura produzida pelo aluno como eixo principal.

Á luz de Moreira e Candau (2003), acreditamos que educação e cultura “não podem ser concebidas como dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma via tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados” (p.160), ou seja, toda experiência pedagógica é portadora de cultura. Desta forma, se faz necessário situar-se culturalmente informando-se sobre os modos de vida desta população, conhecendo histórias, expectativas, padrões culturais e relações de poder.
Como forma de “legitimar os discursos e as vozes” dessas crianças, inserindo-se em uma perspectiva multicultural crítica da educação, realizamos uma pesquisa junto aos alunos das 1as séries sobre a cultura corporal da comunidade, questionando á respeito dos movimentos produzidos por aquela população, sendo que esta foi respondida pelas crianças e também por seus familiares, amigos e vizinhos. Apareceram muitas brincadeiras, danças, “jogar bola” e a Capoeira.

Diante dessas respostas formulamos a seguinte pergunta (agora para ser respondida apenas pelos alunos da classe):“- Entre essas atividades (brincadeiras, futebol, danças, e a Capoeira), qual gostaria de ver em nossas aulas?”

A capoeira foi escolhida de forma unânime por quatro 1as séries, seguida das brincadeiras e do “jogar bola”.

Com o andamento de nosso trabalho, conhecendo os movimentos da Capoeira, sua história, musicalidade e as relações de poder, gênero e classes que a envolvem, houve um grande interesse da comunidade escolar, o que fez com que pais, irmãos, e colegas de outras classes também tivessem um significativo envolvimento em nossas aulas, contando histórias á respeito da Capoeira, dando oficinas, ensinando músicas e a tocar os instrumentos.

Assim como Canen (2001), reconhecemos que ao estimularmos a auto-estima do aluno, estaremos contribuindo para a valorização do seu ser, para a sua identidade, o que constituem pré-requisitos essenciais para a aprendizagem na linha intercultural (p.221).

Ao perceber o envolvimento da comunidade escolar, vimos a importância deste elemento da cultura corporal para esta comunidade e o quanto está sendo significativo este trabalho, o qual valoriza e legitima a cultura dessa comunidade.

Metodologia
Após conhecer previamente a cultura corporal produzida pela comunidade na qual a escola está inserida, realizar pesquisa junto aos alunos das 1as séries sobre a cultura corporal da comunidade e os alunos escolherem um elemento da cultura corporal referente as respostas obtidas na pesquisa realizada, a qual foi a Capoeira, fomos pesquisar o que é Capoeira, situá-la historicamente, conversamos sobre questões referentes à raça, gênero e poder (as quais surgem a todo momento e são debatidas durante todo o processo) e socializamos os conhecimentos prévios de cada aluno. Esta primeira etapa teve a duração de um mês, sendo finalizada no início do mês de abril.

Depois dessa primeira etapa, estamos conhecendo os movimentos, instrumentos e musicalidade e socializando saberes de familiares, alunos da escola e amigos da comunidade á respeito da Capoeira em forma de oficinas, rodas de conversa, jogo, e demonstrações.
Na etapa final a qual começa em junho, iremos construir um painel com nossos conhecimentos á respeito da Capoeira, realizaremos uma grande roda de Capoeira com alunos das 1as series e comunidade escolar e faremos uma avaliação junto aos alunos fazendo relação entre os conhecimentos prévios e os conhecimentos adquiridos no decorrer de nossas aulas.

Referências Bibliográficas:
CANEN, A. Universos Culturais e Representações Docentes: Subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural. Educação e Sociedade, 2001, v. 22, n. 77, p. 207-227.

MOREIRA, A. F. & CANDAU, V. M. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, 2003, n. 23, p. 156-168.

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