sábado, 4 de outubro de 2008

Enfim, música nas escolas outra vez!

Recebi este texto pela Zeneide, creio que é do interesse do blog.

Enfim, Música nas escolas outra vez!

Júlio Medaglia

É preciso abrir a mente dos jovens para muitas vivências sonoras e mostrar-lhes como é grande e colorido o mundo musical universal.

Na década de 1930, a carreira internacional de Heitor Villa-Lobos fluía muito bem. Ao ver, porém, a expansão dos meios eletrônicos de massa, o rádio e a gravação de discos, apaixonado pelo Brasil como era, resolveu permanecer aqui para iniciar um projeto de ensino musical nas escolas. Pretendia, assim, proteger nosso povo de um possível ataque maléfico dessa emergente indústria da cultura, que ele chamava de música de repetição.

Dizia, não com estas palavras, que o brasileiro deveria ser municiado de informações musicais sólidas, pois poderia ficar refém dessa máquina, seguramente mais preocupada em comercializar seus produtos que em prestar serviços à cultura nacional.

Não se tem notícias de um raciocínio tão coerente e premonitório como esse, sobretudo quando se observa a realidade cultural atual.

Esse bombardeio via satélite, promovido por uma indústria cultural que se expande na mesma proporção em que baixa o nível artístico da produção, ocorre internacionalmente, direcionando o público no sentido de um frenético “consuma e descarte” que, tratando de bens comuns, pode funcionar, mas, quando aplicado à criação artística, promove verdadeira devastação na sensibilidade humana.

Inicialmente apoiado pelo interventor federal em São Paulo, tenente João Alberto, Villa fez uma longa viagem ao interior de nosso Estado -carregando um piano consigo!-, iniciando uma verdadeira caravana em prol da divulgação e do ensino de uma música de qualidade.

Com o bom resultado da experiência/aventura , o grande educador Anísio Teixeira, então secretário de Educação do Rio, criou para Villa uma Superintendência da Educação Musical e Artística. Próximo do poder central, Villa fez seu projeto chegar a Getúlio.

O ditador, encantado com as manifestações de massa do ufanismo patriótico nazifascista da Europa, viu nas concentrações corais de Villa o instrumento ideal para promover algo semelhante no Brasil. Assim, decretou a obrigatoriedade do ensino musical no país. Em seguida, criou-se o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico para a formação de professores, o qual Villa dirigiu até sua morte, em 1959.

Por mais que se possa ter criticado componentes daquele projeto, o canto orfeônico prestou inestimáveis serviços à formação do brasileiro.

Com a criação do “Guia Prático”, harmonização de 137 cantos populares das diversas regiões, Villa fazia com que o Brasil se conhecesse por meio da música e, ao vocalizá-los, que o jovem se autodisciplinasse. Nessas aulas chegava ao jovem também a informação de um universo musical amplo, assim como o conhecimento da música dos grandes mestres.

Em 1972, o coronel Jarbas Passarinho, então ministro da Educação e Cultura, prestou um desserviço à nação ao extinguir o ensino musical nas escolas, provavelmente temendo o poder feiticeiro, talvez “subversivo” da música.

Nestes 36 anos, não faltaram empenhos para trazer de volta o ensino musical ao jovem, já que essa forma de expressão é a que mais acompanha o ser humano na vida.

Recentemente, a senadora Roseana Sarney apresentou um projeto que alterava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, propondo a obrigatoriedade do ensino musical nas escolas. Para surpresa geral, essa proposta foi aprovada rápida e unanimemente no Senado e na Câmara. No dia 18/8, o presidente Lula sancionou esse projeto de lei, dando três anos às comissões de ensino para se adaptarem às exigências pedagógicas estabelecidas nos artigos 1º e 2º dessa lei.

Surge agora o debate de como conduzir a criação de um currículo. Teme-se que comissões de endiabrados “alquimistas” se reúnam por décadas para a elaboração de um monstrengo pedagógico, enquanto outros, sabedores da urgência da aplicação desse ensino, optem pela criação de algo prático e imediato.

Sou da opinião de que se crie uma comissão mínima para debater o assunto, com apoio do Ministério da Cultura, e se elabore um currículo prático e compacto de no máximo dez páginas. Para que, com ele, um músico de formação razoável -sem mil diplomas, licenciaturas ou mestrados!- possa entrar numa sala de aula e exibir vídeos, CDs, fazer as crianças cantarem o “Guia Prático”, conhecer os hinos nacionais, tocar instrumentos simples, talvez fabricados por eles mesmos, baseados nas experiências do método Carl Orff.

Assim, pode-se abrir a mente dos jovens para muitas vivências sonoras e mostrar-lhes como é grande e colorido o mundo musical universal, bem diferente daquele que ele vê na TV.
E que se faça isso rapidamente, antes que o processo de imbecilização coletiva via satélite ganhe essa guerra.

JÚLIO MEDAGLIA , 70, é maestro.
www.juliomedaglia. com.br
http://www.famalia. com.br/boletim/ ?p=5734

Um comentário:

Danila Ribeiro disse...

Olá... gostei muito do artigo e justamente pensando em música de qualidade e uma forma de unir tecnologia e música ao público infantil, que meu grupo de TCC do Curso de Mídias Digitais está produzindo um vídeo-clipe interativo para crianças, utilizando a linguagem de desenho animado, sob a música SOPA do grupo palavra cantada. Para acompanhar o processo fizemos um blog e gostaria de deixar aqui como sugestão:
http://studiopandora.wordpress.com