Estudo das cores
Eu estava cansada. Mil coisas para fazer. Acabara de entregar um quadro para exposição, e já estava pensando em como resolver a decoração do atelier. Ainda tinha a entrevista no canal 36. E a reunião sábado? Militância artística na quarta. Aluna nova que vem de Botafogo. Turma iniciando em Santa Rosa. Saiu em que jornal mesmo, hein? Tenho que comprar material pra grafitar o Abrigo. Pegar autorização para levar os alunos. Será que cabe todo mundo numa van?
Assim estava minha cabeça enquanto eu saía do Horto Viveiro na UFF. Peguei a litorânea, desci a pé. Passei pela Praia da Boa Viagem, cheguei no MAC, e segui descendo. Então, de repente fui acometida de um êxtase artístico. Dei-me conta de que estava andando a pé, de chinelo de dedo, numa tarde ensolarada, na Beira da Praia. A onda batia tão perto do calçadão que respingava no meu rosto.
Então tentei continuar com meus pensamentos, mas não dava para ignorar o mar à minha frente. As ondas batiam no calçadão como se me provocassem: "Ei, vem aqui”. Então esqueci de todas aquelas coisas na minha mente e fiquei observando o sol, o mar, o céu azul. O vento gelado na minha pele, o barulho do mar. Fiquei emocionada. E em silêncio comigo mesma. As milhões de preocupações na minha mente silenciaram e eu só ouvi o mar.
Então comecei a ter o desejo de compartilhar aquilo com meus alunos. Imaginei. Eu podia ministrar o estudo das cores do Israel Pedrosa, aqui. Falar sobre a cor inexistente ali no MAC. Branco daquele jeito, vai ser fácil observar cores inexistentes ali. Depois a gente desce e olha as ondas. Quantos tons de azul têm nas ondas de um dia ensolarado? Além dos verdes, cinzas e também os marrons da areia. E o “Marrom Van Dick” da Pedra de Itapuca? Os edifícios me inspiram para um abstrato. E as texturas? Eu podia pedir-lhes para pintar o som das ondas da Praia da Boa Viagem, que não é o mesmo som da Praia de Icaraí.
Então, com tudo isso me maravilhando, a uns cinco metros de mim, uma onda explodiu nas pedras e criou um maravilhoso arco-íris diante de meus olhos. E as ondas seguintes também. Uau! Que estudo de cores maravilhoso: Cores dióptricas. Lembrei de Descartes: "A luz é uma matéria fina e sutil que se propaga por toda a parte e que fere nossos olhos. As cores são sensações que Deus excita em nós, segundo os diversos movimentos que trazem essa matéria aos nossos órgãos”. Mas Deus provocaria novamente aquele arco-íris ali? Talvez eu não possa mostrá-los ali a cor dióptrica, mas apenas a inexistente, e as outras mais simples de achar. Que importa? O mar continua batendo.
Voltei aos meus pensamentos. Será que consigo um ônibus para levar as 6 turmas na praia? Será que vão liberar? Preciso conseguir um passeio no museu e depois na praia em dia de semana, que é mais vazio. Preciso pegar autorização para levar os alunos. Será que cabe todo mundo numa van?
A hora do recreio acabou.
Levantei e fui para casa.
Lya Alves
Projeto Philosoffiti
http://graffitievangelista.blogspot.com
lyamac76@yahoo.com.br
Eu estava cansada. Mil coisas para fazer. Acabara de entregar um quadro para exposição, e já estava pensando em como resolver a decoração do atelier. Ainda tinha a entrevista no canal 36. E a reunião sábado? Militância artística na quarta. Aluna nova que vem de Botafogo. Turma iniciando em Santa Rosa. Saiu em que jornal mesmo, hein? Tenho que comprar material pra grafitar o Abrigo. Pegar autorização para levar os alunos. Será que cabe todo mundo numa van?
Assim estava minha cabeça enquanto eu saía do Horto Viveiro na UFF. Peguei a litorânea, desci a pé. Passei pela Praia da Boa Viagem, cheguei no MAC, e segui descendo. Então, de repente fui acometida de um êxtase artístico. Dei-me conta de que estava andando a pé, de chinelo de dedo, numa tarde ensolarada, na Beira da Praia. A onda batia tão perto do calçadão que respingava no meu rosto.
Então tentei continuar com meus pensamentos, mas não dava para ignorar o mar à minha frente. As ondas batiam no calçadão como se me provocassem: "Ei, vem aqui”. Então esqueci de todas aquelas coisas na minha mente e fiquei observando o sol, o mar, o céu azul. O vento gelado na minha pele, o barulho do mar. Fiquei emocionada. E em silêncio comigo mesma. As milhões de preocupações na minha mente silenciaram e eu só ouvi o mar.
Então comecei a ter o desejo de compartilhar aquilo com meus alunos. Imaginei. Eu podia ministrar o estudo das cores do Israel Pedrosa, aqui. Falar sobre a cor inexistente ali no MAC. Branco daquele jeito, vai ser fácil observar cores inexistentes ali. Depois a gente desce e olha as ondas. Quantos tons de azul têm nas ondas de um dia ensolarado? Além dos verdes, cinzas e também os marrons da areia. E o “Marrom Van Dick” da Pedra de Itapuca? Os edifícios me inspiram para um abstrato. E as texturas? Eu podia pedir-lhes para pintar o som das ondas da Praia da Boa Viagem, que não é o mesmo som da Praia de Icaraí.
Então, com tudo isso me maravilhando, a uns cinco metros de mim, uma onda explodiu nas pedras e criou um maravilhoso arco-íris diante de meus olhos. E as ondas seguintes também. Uau! Que estudo de cores maravilhoso: Cores dióptricas. Lembrei de Descartes: "A luz é uma matéria fina e sutil que se propaga por toda a parte e que fere nossos olhos. As cores são sensações que Deus excita em nós, segundo os diversos movimentos que trazem essa matéria aos nossos órgãos”. Mas Deus provocaria novamente aquele arco-íris ali? Talvez eu não possa mostrá-los ali a cor dióptrica, mas apenas a inexistente, e as outras mais simples de achar. Que importa? O mar continua batendo.
Voltei aos meus pensamentos. Será que consigo um ônibus para levar as 6 turmas na praia? Será que vão liberar? Preciso conseguir um passeio no museu e depois na praia em dia de semana, que é mais vazio. Preciso pegar autorização para levar os alunos. Será que cabe todo mundo numa van?
A hora do recreio acabou.
Levantei e fui para casa.
Lya Alves
Projeto Philosoffiti
http://graffitievangelista.blogspot.com
lyamac76@yahoo.com.br
Um comentário:
É por isso que penso: muitas vezes a imprevisível vida ensina mais do que aulas perfeitamente planejadas, registradas e avaliadas. Ter tudo sobre controle também siginifica perder a atenção e interesse nos detalhes e nuances... Será possível simular a vida?
Postar um comentário