domingo, 28 de setembro de 2008

Metodologia Zig Zag, texto de Ana Mae Barcosa

Recebi esse texto de uma colega virtual, e como gostei muito, compartilho com vocês.
É uma atualização da abordagem triangular no ensino de artes.
Um abraço,
Selma

ZIG/ZAG, Arte/Educação e mediação

Ana Mae Barbosa.

Arte/Educação é principalmente mediação entre Arte e público. Portanto, compreende o esforço de um mediador ou educador em facilitar, estimular, ampliar o conhecimento da Arte pelo público. Este esforço exige um vasto conhecimento da Arte e pelo menos um conhecimento bem embasado de como a mente trabalha em direção a apreensão da imagem e dos processos mentais envolvidos na sua produção.

Recentes pesquisas sobre cognição (Efland, 2002) têm demonstrado a importância do engajamento das crianças e adolescentes nas artes para desenvolver a inteligência, o pensamento reflexivo e a capacidade de investigar e analisar o mundo ao redor. Estas pesquisas vieram resgatar a Arte na educação da 'lamúria psicologizante' e do sentimentalismo diluidor.

Entretanto, não é qualquer abordagem metodológica que desenvolve os processos mentais envolvidos na decodificação e na produção da Arte. Certamente as imagens para colorir de péssimo padrão estético ou os exames que pretendem comprovar se os alunos memorizaram nomes de artistas, suas vidas, ismos e datas não desenvolvem a capacidade de pensar.
A Pedagogia Questionadora têm sido um bom caminho para potencializar a curiosidade e a formulação de significados por crianças, adolescentes e adultos. Contudo, mesmo esta Pedagogia tem sido banalizada não atingindo as plenas possibilidades e os múltiplos significados da obra e do campo de sentido da Arte, restando no obviismo.

O DIÁLOGO é a força motriz da Pedagogia Questionadora, um diálogo que não se limite a roteiros preestabelecidos, um diálogo no qual não há resposta certa nem errada. Podemos julgar qual a interpretação mais adequada ou menos adequada em função do objeto ou idéia analisada. Podemos avaliar o que em termos de atribuição de significado se confirma objetivamente na obra ou o que é produto da elocubração do observador, que mesmo assim não deve ser descartado pelo professor, mas levado à confirmação diante da imagem.

O diálogo frente à obra é o melhor antídoto contra a 'cultura do silêncio' das escolas e museus na qual somente vicejam a prepotência, o autoritarismo e a hipocrisia.

Além do diálogo questionador e propositor de variáveis temos trabalhado com a Proposta ou Abordagem Triangular que compreende as ações de fazer, ver e contextualizar . Esta abordagem metodológica vem sendo transformada nos últimos quinze anos pela ação recriadora de professores e pesquisadores.

Hoje a metáfora do triângulo já não corresponde mais à sua estrutura. Nos parece mais adequado representá-la pela figura do zig-zag pois os professores nos têm ensinado o valor da contextualização tanto para o fazer como para o ver. O processo pode tomar diferentes caminhos /CONTEXTO\FAZER/CONTEXTO\VER ou VER/CONTEXTUALIZAR\FAZER/CONTEXTUALIZAR\ ou ainda FAZER/CONTEXTUALIZAR\VER/CONTEXTUALIZAR\

Assim o contexto se torna mediador e propositor, dependendo da natureza das obras, do momento e do tempo de aproximação do fruidor, enfim da unidade 'subjetil' (sujeito + objeto).
O programa Diálogos e Reflexões é um espaço proposto aos educadores para pensar juntos acerca da Arte e da Arte/Educação. A idéia é que este diálogo estabelecido entre parceiros, mediadores e em presença da própria arte provoque reflexões que nos ajude a encontrar respostas às questões que permeiam as práticas educativas. Questões que muitas vezes levam a outras questões, que nos fazem refletir sobre nossas concepções e a de nossos alunos. Estas reflexões podem nos ajudar a encontrar caminhos para aproximar a Arte da Educação ou aclarar nosso papel como educadores e mediadores da Arte na Educação.

Quando você escuta a palavra Arte em que objetos e idéias você pensa? E seus alunos?
Muito já se ouviu falar nas relações entre Arte e sagrado, espiritualidade e Arte, transcendência e Arte e ultimamente em Arte e conhecimento. Quais destas idéias tem maior peso no modo como você ensina arte?

De que maneira a Arte pode ser integrada em um currículo? Qual a diferença entre integração e interdisciplinaridade?

Como tornar relevante e significativo para os alunos o conhecimento da arte pré-histórica do Brasil, por exemplo?

O que os alunos podem aprender estudando obras de arte contemporâneas?

Que espécie de informação é necessária para entendermos uma obra de arte?

Que papel tem a memória na construção de identidades culturais e pessoais?

De onde você imagina que os artistas tiram suas idéias? E seus alunos de onde tiram as suas idéias para os trabalhos de Arte?

Você acha que o trabalho das crianças pode ser qualificado como arte? Porque?

Hoje, não só a imagem da Arte, mas a Cultura Visual em geral é importante ser vista criticamente. Neste sentido, além de obras de Arte, toda e qualquer peça gráfica pode ser objeto de análise com os alunos. Que tal começar analisando os materiais gráficos produzidos e distribuídos pelo CCBB-SP?

Qual o seu papel numa visita de sua classe a um museu ou centro cultural e qual o papel do educador do museu?

Referências

BARBOSA, Ana Mae (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.
______. (Org.). Arte/Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.

EFLAND, Arthur. Art and cognition. New York: Teachers College, 2002.

FREEDMAN, Kerry. Teaching visual culture: curriculum, aesthetics and the social life of art. New York: Teachers College, 2003.

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