domingo, 28 de setembro de 2008

Quem tem medo do medo??? Texto poético teatral co-autoria alunos do Ensino Fundamental da Prefeitura de S. Caetano do Sul


ARTE/EDUCAÇÃO EM AÇÃO...

A seguir uma obra poética produzida através de trocas de opiniões, debates, textos e cenas nas aulas de Artes Cênicas que ministro aos alunos de São Caetano do Sul, uma experiência muito significativa na concepção de arte/educação reflexiva com crianças.

Fui o mediador das falas dos alunos e estruturei o texto que inicialmente tinham 10 linhas e a partir disso fomos criando essa história aventureira! Viajamos na fantasia e foi validado planamente o universo infantil... Eles decidriam o início e o fim da história que brevemente se transformará em livro infantil, escrito prioritariamente a apartir do ponto de vista de quem entende bem do assunto: CRIANÇA!

QUEM TEM MEDO DO MEDO???

Otávio é um garotinho muito esperto, mas não sabe ao certo o que está por traz do escuro.
Ele desconfia que seja o gato preto que havia subido em cima do muro.
Ele sabe que no conforto do seu quarto não tem perigo, ele montou uma cabana bacana, cheia de cobertas, essa cabana é seu abrigo, lá é um lugar seguro.
Mas quando chega a noite lá fora vira um lugar escuro. Quem será que mora no escuro?
Otávio pensa em grilos e largatixas, esses bichinhos que vivem no quintal.
No escuro do quintal também moram formiguinhas e cigarras que não fazem nenhum mal.
Certa noite chovia muito, o menino sempre alerta correu pra sua cabana, mas esqueceu a porta aberta e a lanterna em cima da cama.
O vento que balançou a cortina soprou forte e fez um barulhinho...
O garotinho ouviu um grito fino e estridente parecido de menina, correu de volta para seu esconderijo e abraçou seu ursinho.
Era o urso “ALFE” seu protetor, seu amiguinho.
Olhou pela janela e as árvores balançavam na esquina
Otávio preocupado chamou seu papai...
O menino ouviu um uivo de lobo do lado de fora
Tentou acender a luz!
A lâmpada que não acendia
Seus olhinhos arregalados e aquele susto que arrepia
Olhou a hora!
Pensou:
- Meu pai e minha mãe não ouviram muito bem, vou dar um grito!
- Mamãeeeeeeeee!!!!! Papaiiiiiiiiiiiii!
Seus pais chegaram ao quarto assustados
- O que houve filho, por que essa gritaria?
Otávio respondeu:
- Eu estava com medo dos barulhos que estão vindo lá do quintal.
Seu pai teve uma idéia bem legal:
- Meu filho, vou ler para você uma poesia especial.
Há muito tempo atrás um escritor bem divertido inventou essa poesia que parece um samba-enredo, ele ficou escrevendo da noite até no outro dia bem cedo; o nome do livrinho é “Quem tem medo do medo???”

Esses são os versos das crianças corajosas
De crianças inteligentes e cheias de educação
Letras que apresentam histórias caprichosas
Versinhos que parecem uma canção.
Onde moram nossos sentimentos?
Dentro da gente não é Zé Mané?
É o que é! É uma movimentação!
O que tem de bom na nossa imaginação?
O medo é uma ponte quebrada que pode me fazer cair
É uma porta trancada que não me deixa sair
É uma rua não asfaltada que me faz escorregar
É uma escuridão danada que não me deixa enxergar
É uma garota assaltada gritando pra alguém ajudar
Eu tenho medo desses programas que mostram defuntos na TV
Acho que isso é falta de assunto e nem sei pra quê.
Qual é a cor do medo?
Preto, Vermelho, Cinza ou Roxo? É uma cor que nunca vi...
Como ele se apresenta?
Bem devagarzinho, correndo ou coxo? Nem tenho mais medo, acabei de rir...
Que cheiro ele tem? Acho que é fedido...
Ele vem assustando com uma história misteriosa e lenta... Faz meninos e meninas correrem e cada olhinho aumenta!
Meu pedido foi atendido... Não to mais com medo não; percebi que é só apertar a minha mão.
Qual é o jeito que o medo vem?
Jeito esquisito... Mas meu pai já elogiou minha coragem:
- Nossa mas que bonito!
Que forma ele tem?
Parece aquele velhinho lá do armazém...
Como que a gente acaba com o medo de alguém?
Deve ser pensando em coisas boas, eu penso em chocolate, balas, bombons, desenhos e brincadeira, cantiga de roda e ouvir histórias a noite inteira.
O medo é um lugar habitado por quem?
O medo é uma história que ligava a realidade até a imaginação.
Ele vai chegando e mudando a feição?
Não, a minha não!
O medo desperta o ronco das certezas ou alivia o baú da esperteza?
Qual a cor que o medo tem?
Todas juntas?
Qual é a dor que o medo traz?
Todo mundo tem medo ou será que só o neném é que tem?
Até meu pai também se assusta!
Ó meu bem, que mal o medo faz?
Cochichando no ouvido dele,
Diz que vai guardá-lo num baú escondido...
Aposto que ele vai ficar com medo dele mesmo, nesse vai e vem. Medo é apelido!
Quando ele pensar em chegar, você pode se preparar; pegar uma caixinha e colocar o medo dentro, depois coloca-lo do lado de fora.
Aqui ele não vai entrar! Ninguém mais se apavora, por que é hora de poetizar! Versos soltos pra outras histórias contar.
Mas não se esqueça que você tem que todo dia demonstrar...
Os inimigos do medo são o amor, a paz, a alegria, a animação, a educação e a poesia.
Assim ele vai pra bem longe, não vai mais perturbar.
Deixa ele lá, assustado e perdido! Sem saber no que vai dar.
Nada de monstro, nada de bicho fedido, nada de escuro ou assombração!
Nada disso pode ser maior do que a bondade do coração.

*Professor Tiago Ortaet e alunos do 2º ano do Ensino Fundamental - Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul

Um comentário:

Selma Moura disse...

Nossa, que linda história poética, sensível e profunda... uma reflexão sobre o medo, com os pequeninhos... privilégio deles ter esse professor-poeta para construir com eles esse caminhos de palavras... gostei imensamente!