terça-feira, 11 de novembro de 2008

Capoeira Capaz, Capoeira da Paz

Imagine 150 crianças na periferia de São Paulo, frequentadoras de uma escola pública, em um bairro que, como tantos outros na cidade, prima pela ausência de opções culturais e de lazer.

Imagine um professor de educação física e mestre de capoeira que decide ofererecer uma opção de formação cidadã a essas crianças através da caopeira.

Imagine as crianças aprendendo a jogar capoeira e, muito mais que isso, conhecendo melhor seu corpo, vendo que ele é capaz de ter ritmo, força, agilidade, e criar movimentos harmoniosos, precisos e rápidos.

Imagine as crianças aprendendo sobre a herança africana nessa manifestação cultural brasileira, aprendendo a valorizar esses povos historicamente marginalizados, aprendendo que eles têm um conhecimento importante a transmitir e, assim, superando preconceitos e desenvolvendo tolerância?

Imagine que as crianças aprendam que a capoeira foi uma forma de praticar uma luta disfarçada de dança, que foi um recurso inteligente utilizado pelos escravizados para cultivarem sua cultura, suas práticas corporais, desenvolvendo sua defesa sem que os opressores se dessem conta? Imaginem que conhecimento valioso, aprender a resistir à opressão e à violência com recursos sofisticados como esse, unindo forças para manter, ainda que semi-ocultas, suas práticas e seus costumes?

Imagine que na roda de capoeira eles aprendam que todos são iguais, que na roda é sempre preciso um parceiro para jogar, que o parceiro é também respeitado, pois o jogo começa com um cumprimento.

Imagine o quanto aprendem sobre seus corpos, suas possibilidades e limites, como desenvolver seus movimentos controlando força, velocidade, equilíbrio...

Imagine que, para participar disso tudo, nada precisem pagar, mas que tenham que frequentar a escola e ter um bom desempenho escolar. Que incentivo, que apoio à escola esse vínculo.

Imagine que os adultos, mestres de capoeira, são pessoas de bem, que se importam com o outro e realizam voluntariamente seu trabalho, educando não apenas com palavras, mas também com exemplos...

Tudo isso não é imaginação. É realidade, e acontece na ONG Capoeira Capaz. As crianças atendidas vêm da periferia do Jardim Olinda (próximo a Campo Limpo) e participam das aulas de capoira gratuitamente. Aprendem e ensinam tudo isso. Tive o privilégio de vê-las jogando capoeira, e fiquei encantada com sua agilidade, sua alegria ao jogar, o domínio dos movimentos de seu corpo...

Conheço o professor Eduardo, fundador da ONG. Ele é um cara legal, alegre, gentil e sério com as crianças. Tem um compromisso com elas como poucas vezes vi, um respeito pelas crianças e um jeito de lidar com elas que também inspira respeito e admiração. É um jovem professor que dá aula em escolas particulares também, e devota seu tempo, seus recursos e seus conhecimentos a essas crianças. Não é muito conhecido no Brasil, embora já tenha dado algumas entrevistas. Mas viajou pela Europa mostrando o Brasil, nossa cultura e nossa capoeira.

Quando vejo seu trabalho, e o dos professores que atuam com ele na ONG, renovo aquela fé idealista, aquela crença em fazer a diferença, em mudar a vida das pessoas. Os valores estão distorcidos, muita gente crê que para ser feliz é preciso ter, ter cada vez mais, comprar, consumir... Mas não é essa a lógica que segue a ONG Capoeira Capaz, como tantas ONGs e projetos sociais que temos no Brasil, que foram ocupando os vácuos de ação social que o Estado deixou, procurando melhorar a vida das pessoas. A alegria de doar-se (e não doar aquilo que nos sobra)dá sentido à vida dessas pessoas, e ensina aqueles que com elas têm o privilégio de conviver.










Biblioteca Capaz

A leitura é importante. Ziraldo, escritor infantil, pai do Menino Maluquinho, diz que "ler é mais importante que estudar". Concordo plenamente. Lendo, descobrimos outros mundos, vivemos outras aventuras, podemos ser e fazer qualquer coisa através da imaginação. Aprendemos também. Sobre a língua, sobre os lugares e sobre os povos. Então, pensamos em dar às crianças da ONG também o prazer de ler. Não ler para responder a questões de uma prova, mas para se divertir.

Daí surge a idéia de montarmos uma biblioteca para as crianças. Que legal se elas puderem levar livros para ler em casa, com as famílias, ou esparramar-se na própria ONG para desfrutar de momentos de leitura e imaginação! Mas precisamos de livros... Por isso, surge a campanha Biblioteca Capaz, que pretende arrecadar doaações de livros para as crianças e adolescentes.

Brinquedoteca Capaz

Brincar também é importante. É essencial na infância, e por que não, por toda a vida. Brincando reelaboramos nossas experiências no mundo, nos socializamos, desenvolvemos habilidades e conhecimentos novos...

Vamos dar às crianças um espaço e materiais para brincadeiras? Será que elas já têm acesso a bonecas, carrinhos, jogos, casinhas, etc? Assim começamos também a arrecadar brinquedos, tornando a ONG um espaço mais acolhedor e divertido para as crianças...

Sonho que se sonha só
É sonho que se sonha. Só.
Sonho que se sonha junto é realidade.
(Raul Seixas)


Quer sonhar junto? Visite o site da ONG Capoeira Capaz: www.capoeiracapaz.org.br
E venha dividir esse sonho...


Selma de Assis Moura

Um comentário:

Lujohvem disse...

LINDO!..SOU SUSPEITA PARA COMENTAR ALGO!
RS
muito lindo!